Lorelai
Música: "Don't Speak", No Doubt


É muito complicado quando se descobre algo que se quer muito, mas que não se pode ter. Ainda mais quando nos apercebemos que, antes de descobrirmos esse algo, éramos felizes sem ele; mas, que agora que sabemos que ele existe (e que não o podemos ter), é como se já não conseguissemos viver senão num constante contentamento descontente.


[ how do I get better once i've had the best? ]
Lorelai
Música: "Je Ne Sais Pas", Joyce Jonathan


Há bem muito tempo (mas lembro-me como se tivesse sido ontem), discutia com um amigo o facto de, a partir daquele momento, a nossa vida passar a ser uma espécie de incógnita em perpetuidade. Já não iria haver aquele esquema organizadinho de pré-primária, primária, liceu (ou Ensino Básico), Secundário, entrada na Faculdade. Quando chegou o fim da licenciatura, a questão era simples: e agora?

Esse "agora" foi ao ritmo e ao sabor da vida. Tal como já acontecera antes, não mantive o esquema organizadinho que começara a delinear (old habits really do die hard). Acabei por ir ter ao mesmo sítio, mas apenas no momento em que era esperada. E foi das melhores experiências da minha vida.

O "agora" deste momento, esse, continua a ser uma incógnita - talvez não em perpetuidade, mas até à próxima aventura. À qual se seguirá um outro "agora" incognito. Na altura em que falei disto com esse amigo, há tanto tempo, assustava-me essa perspectiva; hoje em dia, acho que já não conseguia viver com o plano cuidadosamente delineado, para ser seguido à risca.

Gosto desta incógnita, seja ou não em perpetuidade.

 
[ quando tira un pò di vento che ci si rialza un pò - e la vita è un pò più forte del tuo dirle "grazie no".  ]
Lorelai
Música: "Change Is Hard", She & Him


Existem mil fragmentos e pequenas peças de puzzles há muito perdidos que me recordam pessoas de há muito tempo - e que há muito tempo saíram da minha vida. Não me fazem falta; não no verdadeiro sentido da palavra. Às vezes dá uma pontada de saudade - um calafrio de nostalgia - mas não me toca na pele, não me toca no coração.

Mesmo assim, continua a ser muito bom encontrar um desses fragmentos, uma dessas peças de puzzle, para me lembrar dos momentos que partilhei há tantos anos com alguém que, pelo menos naquela altura, foi tão especial para mim. Uma foto parada no tempo, um desenho perdido numa folha mal amanhada, uma mensagem esquecida no telemóvel antigo. Para recordar momentos, mas muito mais para me relembrar que essas pessoas me mudaram, me guiaram para um sítio diferente, me deram uma nova perspectiva, me deram sorrisos e algo com que sonhar.

E isso vale e continuará a valer, por muitos anos que passem. Não há amizades perdidas, apenas amizades que por vezes são de uma época e local somente, para aí ficarem - e na nossa memória.


[ old habits die hard when you've got a sentimental heart. ]
Lorelai
Música: "Easy", Faith No More


Um dia destes, vi uma rapariga num parque lisboeta à hora de almoço. Estava sozinha, a comer sushi. A certa altura, o rolo de sushi desfez-se e foi uma grande bagunça. A rapariga, sozinha, riu-se; limpou o molho de soja que lhe tinha escorrido para as mãos e continuou a comer os bocadinhos de arroz com os dedos, absolutamente impávida e serena. Levantou a cabeça para o Sol, fitou o céu e os seus olhos sorriram. Estava perfeitamente de bem com a vida.

Tive inveja dela. Quero ser essa rapariga, todos os dias, e sentir a mesma leveza de ser que ela transmitia.


[ i wanna be free - just me. ]
Lorelai
Música: "Dare You To Move", Switchfoot


Apetecia-me ir para longe, para poder afastar-me de tudo aquilo que não me deixa alcançar completamente aquela serenidade que procuro. Entrar num avião e partir para algum lugar distante, onde eu fosse a minha única preocupação no Mundo inteiro.

Como as coisas não funcionam bem assim, como o Mundo (esse sacana!) não pára só porque eu assim o entendo, vou ter que encontrar uma forma de encontrar essa serenidade aqui mesmo. No meio de toda a tumultuosa confusão que insiste em perseguir-me; assim, pelo menos, sei que quando der de caras com a dita serenidade, ela será feita de uma matéria bem mais forte e durável do que qualquer bolha de sabão que eu possa alimentar.


[ to be with myself and center; clarity, peace, serenity. ]
Lorelai
Música: "Andadas", Melendi


A solidão pode tomar as mais diversas formas. Ainda que a solidão de se estar de facto sozinho tenha o peso que tem, vim a aperceber-me que a solidão que mais me incomoda é a solidão de quando se está no meio de muita gente - de quem até gosto, com quem até me sinto bem - mas que desconhecem algo fulcral que se passa dentro de mim.

Nos últimos anos fui aprendendo a disfarçar o que me vai cá dentro, a esconder dos outros quando não estou bem. Construí uma espécie de muralha; não penso que seja demasiado forte, mas é o suficiente para manter os outros distantes do que me vai na alma. Até agora, são extremamente raras as pessoas que abriram caminho através dessa muralha.

E então vou andando na minha vidinha normal, muito happy go lucky, sem falar do que pesa dentro de mim, a guardar tudo muito quietinho cá dentro, a sentir-me como um móvel a ser lentamente corroído por bicho-da-madeira, ocultando de todos (por vezes, até de mim mesma) o que me faz um pouco mais triste a cada dia que passa.

Torna-se um pouco solitário. But who cares?


[ 'cause no one told me not to fall in love - no one gave me such advice. ]
Lorelai
Música: "Not There Yet", Luísa Sobral


Se há coisa em que sou muito tipicamente portuguesa, é naquela pequena questão muito peculiar das saudades. Tenho saudades quase sempre, de quase tudo; quando estou a ter um momento realmente feliz, sou capaz de sentir saudades quase que por antecipação. Sou assim, que hei-de fazer? Pode não ser muito saudável, mas é a forma como fui construída; desisti de combatê-lo, decidi abraçá-lo.

No meio de tantas saudades, existe algo em particular que, quando desaparece, me deixa realmente umas saudades tremendas: eu própria - melhor dizendo (o meu egocentrismo ainda não chega a tanto), a noção de quem eu sou. É demasiado fácil perdermo-nos no meio dos outros e, enfim, no meio da vida que corre ao nosso lado sem darmos por ela.

O último ano teve provavelmente dos melhores momentos que tive na minha vida; são memórias que ficarão para sempre. Mas no meio de tanta vida, perdi-me algures; agora é tempo de me reencontrar.


[ when you're dreaming with a broken heart, the waking up is the hardest part. ]