Lorelai
Música: "Breathe (2 a.m.)", Anna Nalick




Podia tentar explicar, mas não consigo. Por mais que tente, não estou a ser bem sucedida em pôr um ponto final nesta história (se é que é uma história e não uma mera frase esquecida a meio).

O meu lado lógico e racional anda numa luta constante com esta coisa, este algo que cresceu dentro de mim e que insiste em ir ficando. Há mil razões, situações e justificações que me vou relembrando, para assegurar que não me esqueço de que ele não sente isso por mim. Afinal, porque sentiria?


É bastante tempo (se ele estivesse realmente interessado, já alguma coisa teria acontecido). Eu não sou a típica miúda gira, a miúda por quem qualquer tipo cai de quatro (ora, sou a amiga, a miúda para conversar). Ele muda de atitude com uma facilidade brutal, tanto nos falamos todos os dias como passam duas semanas em que mal sei dele (ele não quer saber, ele não se preocupa). De certeza que existe uma pequena multidão de raparigas atrás dele (e até que ponto é que ele não está a jogar esse jogo?).


As ideias estavam arrumadas, ele foi-se durante uns dias terríveis e a perspectiva fez-me acreditar que era agora, que, de uma vez por todas, tinha conseguido esquecê-lo, passado à frente, está feito e eu vou voltar a ficar sem estas coisas tolas de sentimentos por quem não sente nada por mim. Convenhamos, há muito mais para ver, muito mais para viver. Tudo isso muito mais importante do que isto. E, por isso, eu tinha-o esquecido, eu estava preparada para seguir em frente - tinha tudo organizado na minha cabeça, era lógico e racional, era tempo.


Mas ele voltou antes do tempo e, por um qualquer segundo de destino, olhei e vi-o. Ele viu-me, a expressão dele de quem claramente não me esperava. E a reacção instantânea dele foi sorrir-me. Um sorriso que fugiu, um sorriso completo e feliz. Aquele sorriso. E, dentro de mim, nem toda a lógica e razão conseguiram impedir o meu coração de saltar.



[ it was only a smile - but my heart, it went wild. ]
Lorelai
Música: "Wasn't Expecting That", Jamie Lawson



Não estava à espera de nada naquela altura, muito menos que esse algo que surgiu tomasse as proporções que tomou e que me fizesse sentir como me senti.

Não estava à espera de voltar a acreditar que aquelas coisas de sentimentos e tal, afinal, pudessem existir e que se aplicariam também a mim.

Não estava à espera, mesmo nada à espera, de sentir por ele o que senti. De apaixonar-me lentamente, quase sem dar conta; de descobrir pequenos detalhes nele quando ao mesmo tempo parecia conhecê-lo há anos; de senti-lo algo meu, quando estupidamente me ia sentido algo dele.

Não estava à espera de pensar (ou, julgo, chegar a acreditar) que ele era "o tal", por muito idiota que isso soe; de conseguir ver-nos juntos muito mais à frente nas nossas vidas, de criar imagens de um futuro (não tanto planos, somente... algo).

Mas, confesso, estava à espera que, mais cedo ou mais tarde, a bolha rebentasse. Receios antigos ou profecia auto-realizável, não sei; mas parece-me que a história terminou, sem sequer ter chegado ao fim.


[ i was doing fine without you, till i saw your face - now i can't erase. ]
Lorelai
Música: "Primavera", The Gift



[ today is just like all the others. let love lead. ]
Lorelai
Música: "Bulletproof", La Roux


Recuso-me a acreditar que a vida é um mero caos desorganizado. Não vejo como nós possamos ser simples peões num jogo sem regras e sem sentido. Na minha cabeça, tudo acontece por um motivo, tudo tem um significado (ainda que, por vezes, só o descubramos passados meses, anos, décadas). O bom, o mau e o assim-assim. Algures, em algum momento, aquele acontecimento que me feriu há-de ter um motivo de ser.

Tem que ser assim. Ou, pelo menos, eu tenho que acreditar que assim é; senão, qual será a racionalização possível por trás deste Mundo?


[ and i've been a fool and i've been blind - i can never leave the past behind. ]
Lorelai
Música: "Fireworks", Katy Perry


Sou ligeiramente às avessas. Nem sempre as coisas me parecem mais certas nos seus lugares quando as faço da forma que seria considerada normal.

Quando se aproxima o virar do ano civil (que pouco mais é do que uma data meramente simbólica, apesar de tanta gente ver nela a vinda de um novo Messias a cada 365 dias), dou por mim mais preocupada em reviver os detalhes dos 12 meses que vivi do que em preparar uma série de resoluções que sei que não irei cumprir nem pela metade.

Músicas, filmes, livros, frases, momentos, pessoas e sentimentos. Mil e uma coisas que eu tento compôr numa qualquer mescla minimamente lógica, para observar à distância o quadro de umas 8760 horas de vida. E de uma forma bastante agridoce, organizo tudo aquilo que ao longo do ano adio indeterminadamente - acalmando o coração e ouvindo a razão.


[ nothing compares - no worries or cares; regrets and mistakes, they are memories made. ]
Lorelai
Música: "Christmas Wrapping", The Waitresses


Este ano, o Natal vai ser diferente. 24 de Dezembro chegou sem me dar tempo para o sentir chegar. Os dias foram passados a trabalhar, até ao último segundo. A família não vai estar completa à mesa da consoada - nem sequer no almoço de Dia de Natal. Sinto-me a dizer adeus aos melhores amigos de sempre, sem termos completamente a noção de que as coisas vão mudar. Falta o conforto quente no coração. As prendas que eu gostaria de receber não podem ser embrulhadas e colocadas debaixo de uma árvores, independentemente das luzinhas brilhantes que a iluminam.

Este ano, o Natal é diferente. Talvez porque eu esteja diferente, talvez porque o ambiente à minha volta continue a mudar - quer eu queira, quer não. O Natal vai ser diferente e o que se deseja é que, mesmo que mal amanhado, seja o mais feliz e o melhor que se possa ter. Com a esperança de que, para o ano, as coisas mudem novamente, mas para melhor.

Feliz Natal.


[ Merry Christmas! Merry Christmas... but I think I'll miss this one this year. ]
Lorelai
Música: "Shake It Out", Florence + The Machine


Mesmo quando não se quer, as coisas mudam, as perspectivas alteram-se, o que julgáramos certo não o é mais e aquilo que sempre havíamos tido como impossível, acontece. Imprevistos, boas notícias, fatalidades, tristezas e alegrias, planos e objectivos, relações e amizades. Nada é, na realidade - de facto - certo e seguro. E um tudo pode ser um grande nada, algo que nos preenche pode ser igualmente aquilo que nos esgota.

As coisas mudam. A vida não é linear. Uma recta nem sempre é a direito e tantas curvas há que são bem mais certas do que um caminho traçado minuciosamente.

Mas até quando valerá a pena agarrarmo-nos a um sonho que sabemos que nunca virá a ser real...?


[ too much of something is bad enough, but something's coming over me to make me wonder - too much of nothing is just as tough. ]