Música: "Cannonball", Damien Rice
Tenho dias de fúria de querer largar tudo, esquecer rotinas, cafés matinais e chaves do carro, semáforos e cartões de crédito, sustos e medos, manias e desejos, hábitos e melancolias, portas de casa e elevadores. Tenho fúrias de querer meter-me pela 2ª Circular, chegar ao Aeroporto de Lisboa, pegar num bilhete de avião e ir sem mais delongas para qualquer sítio – qualquer sítio que não aqui.
Perco tempo a maquinar e inventar – a imaginar e a sonhar, no fundo – onde poderia ir, o que iria ver, o que viveria e conseguiria mais tarde contar. Ir, só por ir, só porque posso, só porque quero. Só porque não sinto que nada me prenda senão insignificâncias ou imposições cuja origem desconheço em absoluto.
E isso não me soa a motivo suficiente. Possivelmente porque não o é. Aliás, certamente porque não o é.
Então bem que podia pegar no carro neste exacto momento, meter-me pela 2ª Circular, chegar ao Aeroporto de Lisboa, pegar num bilhete de avião e voltar para Itália ou mesmo para Londres, a minha cidade de todos os sonhos… Ou qualquer outro lugar. Podia ir para Nova Iorque, podia ir para qualquer sítio na Austrália, podia ir estender-me numa praia brasileira.
Podia. Ou será que podia? Não o faço…
Até que ponto podemos realmente fazer o que queremos?
[ É do género o Carcavelinhos do Sul querer ganhar a Liga dos Campeões. ]