Lorelai
Música: "Little Wonders", Rob Thomas

Sou uma escritora. Posso nunca vir a ter nada publicado, mas eu, intrinsecamente, enquanto pessoa, sou uma escritora. Há características nossas que nos definem de uma ponta à outra; esta é uma das minhas.

Acontece-me uma série de vezes acabar por não escrever no papel determinada ideia que tive, simplesmente porque o momento já passou. Se for tentar escrever algo que já passou - coisa que deixei de fazer, por perceber que é ridiculamente inútil - cada gota de tinta ou partícula de carvão vai ser forçada. Bom, para o caso, também contam as batidas no teclado, claro.

De qualquer modo, o que quero dizer é que isso também me acontece enquanto pessoa «extra-escrita», na minha relação com os outros, no meu dia-a-dia. Às vezes pode ser mau, mas até considero que tem mais aspectos positivos do que negativos; principalmente porque, até certo ponto, eu acredito que o que tem que acontecer, acontece - e o resto é paisagem, de forma mais ou menos absoluta.

Concretamente, isto espelha-se nas mais variadas coisas, desde adiar indefinidamente as arrumações no meu quarto "just because I'm not in the mood" até deixar passar completamente ao lado ter determinadas conversas com x ou y sobre a ou b. Se vai ser forçado, para quê insistir quando já se perdeu a oportunidade?

Pode até não parecer, porque tendo a ser demasiado metódica e fazer planos para tudo e mais alguma coisa. Mas a verdade é que, inevitavelmente, eu vivo no momento. Posso ter aquelas tendências nostálgicas com o Passado, ou ser demasiado idealista para o Futuro, só que, no final do dia, o que eu faço é viver momento a momento e agir de acordo com isso. Se passou, passou; ou volta ou acabou. Equação simples, que não será infalível - mas, já dizia o outro, a excepção é que confirma a regra.


[ our lives are made in these small hours, these little wonders, these twists and turns of fate. ]
Lorelai
Música: "Only Wanna Be With You", Hootie and the Blowfish

Penso sinceramente que seja a melhor coisa do Mundo, pelo menos para mim: cães. Claro que podem argumentar que sejam gatos ou outro animal de estimação (ou chamarem-me de ridícula por pensar que o melhor da vida seja, lá está, animais). Mas paciência; para mim, são os cães. Não há muito que possa dizer ou argumentar, porque quem partilha deste sentimento sabe do que estou a falar - e quem não o partilha, nunca entenderá, por mais que se lhes explique. É algo que se sente, que nos muda e que nos pode moldar enquanto pessoa.

Desde que me lembro de ser gente que tenho cães à minha volta. Um pastor alemão, que me derrubava quando abanava a cauda de contente, era eu apenas uma bebé, ficando de seguida a olhar para mim com o ar de maior espanto e de mais completa incompreensão - porque está ela a chorar? Uma cadela rafeira, dog street, como dizíamos no gozo, o espécime canino mais inteligente que alguma vez vi; cheia de personalidade, óptima guarda, mais do que um cão, uma amiga. Viveu comigo desde que a fui buscar com poucas semanas à União Zoófila até à sua morte, ainda hoje e para sempre um dos dias mais tristes da minha vida. O seu companheiro de vida, que teve exactamente o mesmo percurso comigo, um perdigueiro francês do mais adorável de sempre, o que mais queria na vida era estar com pessoas, em especial connosco da casa - nunca, mas nunca, nem na sua velhice, deixou de nos receber com um entusiasmo inigualável. Actualmente, tenho um beagle, provavelmente o cão mais altivo que já tive, com autêntica atitude de gato, mas que, mesmo assim, se esmerou em secar-me as lágrimas na pior altura da minha vida.

Um cão é fiel, atencioso, despretensioso, meigo e companheiro como nem todos os humanos sabem ser. Um cão não guarda rancor, recebendo-nos sempre com uma alegria esfusiante mesmo que da última vez que nos viu se tenha passado algo de amargo. Um cão, um simples animal, consegue dar-nos um conforto e uma paz de alma praticamente inigualáveis, mesmo naqueles momentos que nos sentimos mais desprovidos de vontade e sentido. Um cão não é só um animal, é um amigo, um companheiro de vida - e assim deve sempre ser. Um cão, quando o tratamos como tal, torna-se família, cresce connosco e é sinónimo de tantos grandes momentos de uma vida inteira. E isto, para mim, é do melhor que a vida tem.



[ A dog has no use for fancy cars, big homes, or designer clothes. A water log stick will do just fine. A dog doesn't care if your rich or poor, clever or dull, smart or dumb. Give him your heart and he'll give you his. How many people can you say that about? How many people can make you feel rare and pure and special? How many people can make you feel extraordinary? ]
Lorelai
Música: "Through With You", Maroon 5
Não há pachorra para pedidos de atenção. A menos que sejam uma criança de tenra idade, por favor, por tudo o que é mais sagrado, poupem-me. É que não há mesmo pachorra.

Qual é a de gente feita, maior e vacinada, com dois palminhos de testa, de andar a cheiricar e a pedir satisfações do que faço ou deixo de fazer? Oh meus amigos, eu cá não dou satisfações a ninguém e faço a minha vida conforme bem quero e bem me apetece. A menos que me tenham dado à luz, calem a matraca e não me venham de pedir explicações de x ou y.

Haja pachorra, caramba.

Fazer planos, óptimo. Combinar uma conversa, fantástico. Agora, andar a pedir justificações de porque é que estou ou não aqui ou acolá, imaginar esquemas para descobrir o que não é para outros saberem ou chegar numa de "então porque é que não me dizes nada?"... isso não. A resposta a esta última pergunta...? Está ali mesmo, na primeira frase do primeiro parágrafo.

É que, sinceramente... haja mesmo pachorra.




[ limites da paciência. ]
Lorelai
Música: "Neighborhood", Vonda ShepardUm bocado por acidente, apanhei-me numa dessas redes sociais (verdadeiros «must-haves» para quem quer ter uma vida - ou assim o querem dar a entender), a ver o perfil de amigos que já sairam da minha vida há muitos, muitos Natais. Talvez até nem tenham passado assim tantos anos, mas a sensação que se acaba por ter é, inevitavelmente, de que passou uma eternidade desde aqueles momentos (alguns captados em fotografias hilariantes, com direito a sorrisos gigantescos e muita, muita parvoíce).

É aquele género de situação que, no fundo, qualquer pessoa pensa nunca vir a atravessar - pelo menos não durante os momentos que as tais fotos captaram. Mas acontece. Sem se saber muito bem porquê - ou sabendo-se até bem demais - pessoas que, aparentemente, nunca, jamais sairiam da nossa vida, tornam-se, afinal, completos desconhecidos. Por vezes até surge a situação estranha e desconfortável de encontrar uma dessas pessoas por mero acaso, no meio da rua, e, das duas, uma: ou se "faz-que-não-se-viu", ou trocam-se meia dúzia de palavras completamente desprovidas de qualquer sentimento ou real preocupação (sentimento? Preocupação? Nem é preciso ir tão longe).

Cordialidade, no lugar do que foi, em tempos idos, uma fotografia hilariante, com direito a sorrisos gigantescos e muita, muita parvoíce. Nem dá para perceber muito bem porquê; mudamos nós, muda a gente à nossa volta, muda tudo com o tempo. Sem dar para perceber muito bem porquê.

Continua a ser todo um conceito que me faz muita confusão, independentemende do número de vezes que já senti todo este processo na pele. E, às vezes, vividos anos e anos após a última vez que se trocou a última palavra com algumas pessoas, alguém se apanha, um bocado por acidente, a desejar que não tivessem sido as últimas.



[ time changes everything, one truth always stays the same: you're still you. ]
Lorelai
Música: "You're Beautiful", James Blunt Vinha eu outro dia no metro (num daqueles momentos em que, sem ninguém perceber muito bem porquê, nunca mais se sai da mesma estação), quando entrou uma rapariga mesmo para a minha frente. Tinha ar de caloira de Faculdade, mas não foi isso que me chamou a atenção (independentemente da minha recente nostalgia em relação à vida académica). Mal vi o rosto daquela miúda, soube que ela estava apaixonada. Até estranhei ela não estar com alguém ao lado - porque a expressão que ela trazia era a típica face de quem está com "aquela" pessoa.

Pois bem, não me enganei. Passados alguns segundos, entrou o namorado dela. Não há realmente palavras que captem com todo o rigor a expressão de pessoas apaixonadas, mas parece quase inato saber estas coisas, pelo menos a quem já cá anda há alguns anos. Há uma espécie de aura (passe o espiritualismo), como se uma qualquer bolha colocasse aquelas duas pessoas no seu pequeno mundo à parte. E é tão fácil ver isso nos outros; difícil é reconhecê-lo quando nos acontece a nós.

Andar de metro tem destas coisas engraçadas - como andar na rua, aliás (se nos dignarmos a abrir um bocadinho os olhos para os outros, ao invés de nos massacrarmos na nossa própria mente). O mais cómico de ver - e que me fez sorrir, reconheço - foi a forma absurdamente pateta em como eles discutiam se seria ou não mais rápido ir a pé até S. Sebastião em vez de esperar que o metro se decidisse a partir. Ela argumentava que sim, que pelo tempo que estavam à espera já estariam no Saldanha; ele respondia calmamente que não, que ela que não fosse tola. Só que, por mais insistente que um ou outro fosse, acabavam sempre com um sorriso idiota na cara e um beijo partilhado. Acaba por ser bonito, como dizia a minha avó, ver cenas destas num mundo que está cada vez mais cínico. Dá esperança.


[ i am a dreamer and when i wake you can't break my spirit - it's my dreams you take. ]