Música: "Drive", The Cars
Está na altura de começar a mentalizar-me: acabei a licenciatura. Até escrever isto soa estranho e - não nego - chega a custar-me um bocadinho. Só um bocadinho...
Que raio é que eu agora vou fazer da minha vida é que eu não sei. Mas toda a gente parece saber onde vai com a sua vida. Só que eu, neste momento... não sei. Não sei mesmo, de todo, em nenhuma vertente da minha insignificante existência. E isso torna-se meio assustador (mas não tanto como me andarem a falar de casamento e de ser mãe).
The pressure's on. Sei que as pessoas mais próximas de mim estão claramente à espera que eu tome uma decisão sobre o que vou fazer. E, do fundo do coração... acreditem que não há ninguém que mais gostasse de vos poder dar uma resposta.
...... mas não posso.
Música: "Thinking Of You", Katy Perry
Véspera do teste de Direito e, por sinal, do Baile de Finalistas. Onze da noite. Conversa ao telemóvel com a L. - conversa algo estranha, refira-se. Do nada, totalmente vindo de parte alguma, ela vira-se e diz: "Cada vez tenho mais a certeza de que vais ser a primeira de nós a casar."
Silêncio deste lado da linha. De seguida, um qualquer som de agastamento e total incredulidade.
Do outro lado, a L. não desiste: "Juro-te. Hás-de encontrar alguém e vais mesmo ser a primeira a casar. Tenho a certeza".
Digam-me se não é isto que qualquer pessoa sã discute na véspera da última frequência na Universidade.
E o mais assustador de tudo é que, nem 24 horas depois, umas três pessoas, no dito baile de finalistas, em momentos totalmente diferentes, sem saberem do que os outros tinham dito, começam a falar do quão maternal sou ou estou e que mãe fantástica eu hei-de ser. E isto, lamento informar, sem qualquer ponta de ironia. Tal como a voz da L. na noite anterior, sem qualquer ironia e com o maior tom de certeza.
Expliquem-me. Digam-me que raio anda a passar por estas mentes. Porque eu não compreendo. E cada vez ando mais longe de perspectivas de casamento, portanto, peço apenas... expliquem-me.
Música: "When We Are Together", Texas
Chamem-me ingénua, mas talvez eu ainda acredite em contos de fada. Pode ser um grande defeito e não nego que expectativas demasiado altas já me deixaram mal umas quantas vezes. Mas, sinceramente... não consigo deixar de acreditar. Não será necessariamente em contos de fada; só tenho certas perspectivas de vida as quais não me entra na cabeça, de todo, que sejam impossíveis. Tal como a questão de duas pessoas "ficarem casadas e apaixonadas durante 30 anos". Ou que, "depois de se ter", o interesse se vai para parte incerta e não nos resta grande opção mais senão ser infeliz ou partir para outra.
Talvez eu seja uma idealista. Aliás, talvez, não: de certeza. Sou-o, das pontas do meu cabelo à unha do dedinho do pé. Mas, estupidamente ou não, acredito no amor e em todas essas boas sensações, e acredito que elas não sejam como o leite do dia, com prazo de validade. E não é que tenha os melhores exemplos à minha volta - antes pelo contrário - mas, bloody hell, that's just the way I'm wired.
Daqui a uns 30 anos, falamos... mas, por enquanto, é assim que me mantenho: ingénua, a pensar na casinha nos subúrbios com cerca branca, o golden retriever (ou o pastor alemão, aliás) aos meus pés, chávena de café quente na mão e o meu marido ao longo de 30 anos sentado ao meu lado. E sim, se estão a questionar-se, ele veio buscar-me no seu cavalo branco e trouxe no bolso do casaco o meu sapatinho de cristal.