
Acontece-me com uma certa frequência acordar a meio da noite e, durante alguns segundos, ficar naquele limbo em que não tenho bem a certeza se o sonho é ou não a realidade. E de quando em quando, assim que me apercebo que, afinal, o sonho é só um sonho, dou por mim a desejar com muito força que assim não fosse. Que o sonho fosse mais do que isso. Ou que eu vivesse dentro desse sonho.
Usualmente, quando isso me acontece são cenários bastante verosímeis. Simplesmente, era a perfeição da minha vida dita normal. O alcançar de este ou aquele objectivo. Estar com quem mais e melhor quero neste Mundo. Sonhos cujos porquês eu consigo identificar, cuja origem eu conheço como a palma da minha mão.
O que ainda nunca me tinha acontecido era ter um sonho tão vívido de um cenário tão pouco realista, tão pouco justificado, tão totalmente inesperado - e que, contudo, tinha o condão de parecer a epítome da perfeição. Não eram OVNI's, não eram viagens intergalácticas; o enredo do sonho em si era do mais corriqueiro que se possa imaginar. Simplesmente, os intervenientes do sonho desempenharem os papéis em questão tornavam-no digno de figurar entre as mais extraordinárias obras de ficção científica.
São sonhos.




Criamos imagens tão perfeitas e detalhadas de desejos e ilusões, recriamos indefinidamente diálogos e reacções, realizamos vezes e vezes sem conta aquela cena, aquele take, que nos esquecemos que o que estamos a construir na nossa mente não é, de facto, a realidade - não antes de ela acontecer. Antecipamos aquele grande momento, o clique que irá mudar a nossa vida e, descuidadamente, cometemos o erro de principiante de não colocar um pé à frente do outro, quem sabe se arriscando tudo. E quando, finalmente, chega a hora esperada... sabe-nos a pouco, a muito pouco, quando outrora dependia de nós apenas criar e recriar os melhores cenários para o nosso próprio filme.
