Lorelai
Música: "125 Azul", Trovante


Acontece-me com uma certa frequência acordar a meio da noite e, durante alguns segundos, ficar naquele limbo em que não tenho bem a certeza se o sonho é ou não a realidade. E de quando em quando, assim que me apercebo que, afinal, o sonho é só um sonho, dou por mim a desejar com muito força que assim não fosse. Que o sonho fosse mais do que isso. Ou que eu vivesse dentro desse sonho.

Usualmente, quando isso me acontece são cenários bastante verosímeis. Simplesmente, era a perfeição da minha vida dita normal. O alcançar de este ou aquele objectivo. Estar com quem mais e melhor quero neste Mundo. Sonhos cujos porquês eu consigo identificar, cuja origem eu conheço como a palma da minha mão.

O que ainda nunca me tinha acontecido era ter um sonho tão vívido de um cenário tão pouco realista, tão pouco justificado, tão totalmente inesperado - e que, contudo, tinha o condão de parecer a epítome da perfeição. Não eram OVNI's, não eram viagens intergalácticas; o enredo do sonho em si era do mais corriqueiro que se possa imaginar. Simplesmente, os intervenientes do sonho desempenharem os papéis em questão tornavam-no digno de figurar entre as mais extraordinárias obras de ficção científica.

São sonhos.


[ this is like that moment in the morning when you first wake up and you're still half asleep and everything seems... things are possible, dreams feel true and for that one moment between waking and dreaming, anything can be real. ]
Lorelai
Música: "Heal The World", Michael Jackson



O melhor sentimento do Mundo é quando consigo imaginar isto mesmo - e quando acredito que não sou a única que o faz. Ainda que me faça chorar sempre que vejo este vídeo.


[ hush, now; i see a light on the sky. ]
Lorelai
Música: "Leva-me Contigo", Duarte Rosado


Para suavizar memórias de sentimentos de muitos anos volvidos, quando lágrimas teimosas assomam aos olhos, não há como esvaziar a mente e sentar-me apenas a observar o pôr-do-sol, o azul escurecendo cada vez mais enquanto brinca com os tons de rosa, de laranja e violeta. Talvez porque tenhamos tido inúmeros amanheceres, mas nunca nenhum pôr-do-sol; e, de tanto em tanto, há dias em que acredito que somente isso tenha sido o que sempre nos faltou.


[ i would never change a thing, even if i could - all the songs we used to sing, everything was good. ]
Lorelai
Música: "Every Day Is A Winding Road", Sheryl Crow


Algumas das pessoas que mais me disseram na minha vida, já não fazem parte dela. É uma mera constatação. Pessoas de muitos e muitos anos atrás, outras nem tanto. Em algumas ainda penso recorrentemente, noutras tal só acontece se, por um daqueles acasos, sou relembrada da sua existência, passada ou presente.

Para além dessas pessoas que foram mesmo muito importantes, existem as outras. Aquelas que, sem terem tido uma passagem vital pela minha vida, fizeram parte do meu dia-a-dia durante um longo período de tempo. E habituamo-nos mutuamente àquela vivência quotidiana. E, sem sermos os melhores amigos que já pisaram o planeta, apreciamos a companhia um do outro, rimo-nos e passamos bons momentos juntos. Daqueles momentos do dia-a-dia, daqueles que, daqui a meia dúzia de anos, não nos recordaremos a menos que submetidos a forte hipnose ou profunda psicanálise.

O que não significa que não façam falta. Tanto umas como as outras. As verdadeiramente especiais e aquelas não tão marcantes, mas que ficaram. Por vezes, dá saudades. Por outras, não me posso impedir de achar hilariante - e, não nego, até um pouco injusto - que outras pessoas da minha vida, aquelas que marcaram pelas piores razões, venham depois, por curvas e contra-curvas da vida, a fazer parte da vida daquelas pessoas, as verdadeiramente especiais e as não tão marcantes, mas que ficaram. Um pouco como se alguém que me é querido, por quem tenho um carinho especial, esteja agora à mercê de, mais cedo ou mais tarde, ser magoado por quem já me magoou. Ainda por cima, quando esse alguém tem o privilégio, indubitavelmente sem se aperceber, de estar com pessoas com o condão de serem verdadeiramente especiais ou não tão marcantes, mas que ficam.



[ tomorrow you'll be thinking to yourself "where did it all go wrong?" - but the list goes on and on and on.. ]
Lorelai
Música: "Gives You Hell", All American Rejects

“I’ll tell you who you are. You’re a scared little boy. I just see you for who you are, unlike you who could only see me as this silly girl who made a fool out of herself. And that’s where you lose; because if you take a second look at me, you would realize that I’m the only person in your life who knows you and accepts you for who you are no matter what.”

«Rachel», Glee



[ and truth be told, i miss you; and truth be told - i'm lying. ]
Lorelai
Música: "Hometown Glory", Adele

A vida deve ser mais do que responsabilidades, trabalho e busca incessante por dinheiro; a vida não deve ser feita de meros objectivos materiais. A vida tem que ser obrigatoriamente momentos, momentos que, ao fim do dia, valem realmente a pena. A vida não é chegar aqui e passar ao lado de tudo, qual animal de carga com palas nos olhos, obecendo cegamente a quem o obriga a seguir aquele e só aquele caminho.

A vida é viver. Saltar, rir, correr, berrar, soltar uma grande gargalhada só porque apetece, mesmo que a situação não fosse a mais própria para tal. A vida é fazer parvoíces, é ser genuíno. Senão, não é uma vida digna de tal nome.

Por isso é que quando me dizem "Pareces uma criança" ou me perguntam "Mas tu nunca hás-de crescer, pois não?", no tom de maior desprezo que conseguem arrancar, algo dentro de mim entra em turbilhão e arde por responder "Muitíssimo obrigada, sois demasiado gentil" e "Não, realmente não - pelo menos se isso significar deixar de saber ser eu, deixar de saber gozar a vida".

Sou criança, sou; só desejo, com todas as células do meu ser, nunca me esquecer de como sê-lo. No dia em que viver signifique meramente responsabilidades, dinheiro e caminhos previamente traçados, hei-de olhar para o lado, rir-me com desdém e dissidir desta existência.


[ we all need to believe, that we can wake up in the dream - it's not as hard as it seems. ]
Lorelai
Música: "Teardrop", Massive AttackCriamos imagens tão perfeitas e detalhadas de desejos e ilusões, recriamos indefinidamente diálogos e reacções, realizamos vezes e vezes sem conta aquela cena, aquele take, que nos esquecemos que o que estamos a construir na nossa mente não é, de facto, a realidade - não antes de ela acontecer. Antecipamos aquele grande momento, o clique que irá mudar a nossa vida e, descuidadamente, cometemos o erro de principiante de não colocar um pé à frente do outro, quem sabe se arriscando tudo. E quando, finalmente, chega a hora esperada... sabe-nos a pouco, a muito pouco, quando outrora dependia de nós apenas criar e recriar os melhores cenários para o nosso próprio filme.




[ the problem is the world doesn't work that way just because you want it to. ]