"If you knew this was your last day on earth, how would you want to spend it?"
... got me thinking.
[ The world of pretend is a cage, not a cocoon. ]
[ É do género o Carcavelinhos do Sul querer ganhar a Liga dos Campeões. ]
'Não tens vida, realmente.'
'Eu sei. Importas-te de não estar sempre a repetir o mesmo?'
'Repito e hei-de repetir as vezes que forem precisas.'
'Para quê?'
'Para saires e arranjar uma.'
...
Há um ano atrás, estes diálogos eram quase diários - ou, no mínimo, semanais. É um bocado triste quando paro a pensar nisso, mas é verdade inegável: eu não tenho vida. E isso é uma grande treta.
Os meus dias são passados a viver a vida dos outros - ou a viver através de algo. São as vidas dos meus amigos que eu vivo - ou, se preciso for, até a vida de pessoas que nem conheço propriamente. Não importa, o que interessa, no fundo, é sentir, ainda que seja sentimentos que pertencem a outrem, só para me assegurar de que ainda sou capaz de tal - de sentir.
E é fácil falar: 'arranja uma vida'. Posso dizê-lo 300 vezes à primeira pessoa que me passar na rua. E então? Disse-lhe por acaso onde é que ela pode ir arranjá-la? Já agora, onde é que se arranja uma vida? Há uma loja especializada, um número de telefone ou um website através dos quais possamos encomendar? É só dizerem-me, eu faço isso e arranjo uma vida. Mas não é assim tão fácil, pois não?
Só que expliquem-me, então, que raio é preciso fazer para ter uma vida. Porque eu até que gostava de ter uma - sei lá, bati com a cabeça e até achei que seria aprazível. Só mesmo naquela, assim à loucura, ter uma vida, ter um namorado, uma 'very busy social life', um emprego para juntar à única parte que tenho - a seca da Faculdade. Mas lá está: não basta estalar os dedos, pois não?
E não é que eu esteja naquele dramatismo melancólico e inútil tipicamente português: bolas, até estou disposta a agir! Simplesmente, no momento em que até decido agir, BAM!, explode-me tudo na cara. Isso já acontece com um estalar de dedos, o que acho bastante injusto - é jogo sujo. Uma pessoa esforça-se para ultrapassar traumas ou lá o que sejam, para afastar fantasmas persistentes do Passado, consegue finalmente libertar-se e sentir-se pronta outra vez para viver e aí... Dizem-te que não, pá, é má altura, escolheste o tipo errado para estares interessada, o pessoal à tua volta não está assim tão dinâmico como isso e acabas a sentir uma atracção enorme pelo jogo de cartas 'Solitário' - que, vendo bem, não poderia ter nome mais aplicado (com excepção, talvez, do outro nome, 'Paciência'... porque é preciso muita paciência para aturar a vida).
Às vezes farto-me de viver a vida dos outros. Mas depois, se não vivo a vida através dos outros, que é que me resta? A bom ver... nada. E isso ainda é mais triste. Portanto, entre os dois males... ao menos que vá vivendo através dos outros. Sempre dá para criar a ilusão de que não me esqueci do que é sentir.