Lorelai
Música: "That's What She Said", Brian Littrell

Certamente não há ninguém que não tenha já passado pelo mesmo: a determinada altura sentimos que existe alguém que nos é absolutamente indispensável – ou, até, que somos totalmente necessários a essa outra pessoa. E, nesse momento específico, preenche-nos uma convicção inabalável de que assim é. Um cenário fora dessa espécie de dependência parece, de todo, risível.

E aí acontece a vida. E, por um motivo ou por outro, essa pessoa sai da nossa – ou saímos nós. E aquilo que parecia impossível, acontece. Somos nós sem essa pessoa na nossa vida. E, atenção, que isto não se trata apenas de relações amorosas; acontece recorrentemente em amizades. Não se consegue explicar, muitas vezes nem se pressente, mas, subitamente, vemo-nos nesse tal cenário que nunca considerámos sequer exequível. E, então, o que se faz?

Continua-se. E, um dia, mais tarde, reparamos que, afinal, não éramos assim tão indispensáveis – nem que essa outra pessoa nos fosse realmente tão necessária. Até podemos ter saudades, até podemos cair numa certa nostalgia a dado momento; só que, na realidade, continuamos a ser nós, porque o que nunca poderíamos de modo algum substituir era a nossa vida.


2009.10.16


[ who’s gonna drive you home tonight? ]
Lorelai
Música: "I Could Say", Lily Allen
Ultimamente parece que há uma qualquer alergia a estar só. Esta constatação vai desde namoros de conveniência a uma necessidade extrema de combinar sempre uma qualquer actividade com outras pessoas - quaisquer pessoas que sejam.

Em conversa com a X., que já não via há imenso tempo, descobri que também ela partilha deste ponto de vista: parece que as pessoas já não sabem apreciar a própria companhia. É como se estar sozinho - por um momento que seja - fosse a maior maldição da História.

Ora, modéstias à parte, eu não gosto da minha companhia; eu adoro a minha companhia. Sem desprimor pelos momentos em família e com os meus amigos (que adoro igualmente), a verdade é que aprecio profundamente aqueles momentos só meus. Seja a fazer o que for - ou mesmo a não fazer nada. Gosto de passar tempo só comigo e faz-me bem.

À vista desta pandemia "estar-com-gente-só-para-não-estar-sozinho", que ameaça tornar-se mundial, aconselho a todos que descubram a felicidade de passar some quality time com vocês próprios. Recomenda-se.


[ well, there's nothing to lose and there's nothing to proof - i'll be dancing with myself. ]
Lorelai
Música: "The Joker", Steve Miller
Martha Beck, autora e colunista, aconselha a fazer a cada dia uma lista de 10 coisas boas na nossa vida. E não vale repetir. Aparentemente, focarmo-nos no bom ao invés dos aspectos negativos da nossa vida torna-nos automaticamente mais optimistas e felizes (yupi, genious is in town!). De qualquer modo, na lista que apresentou, Martha Beck escreveu o seguinte:

Thing Seven: Dogs
Dogs are my favorite role models. I want to work like a dog, doing what I was born to do with joy and purpose. I want to play like a dog, with total, jolly abandon. I want to love like a dog, with unabashed devotion and complete lack of concern about what people do for a living, how much money they have, or how much they weigh. The fact that we still live with dogs, even when we don't have to herd or hunt our dinner, gives me hope for humans and canines alike.


Eu também queria ser como um cão, sim; na minha opinião, a história toda da "vida de cão" está totalmente exagerada. Então se for a vida do meu cão, a sério, eu troco a qualquer momento. As tarefas diárias dele incluem apenas comer e dormir; recebe mais mimos e atenção do que se pode imaginar; e o maior medo dele é banheira. Todos os meus problemas fossem esse e eu vivia mais feliz que um pardal.

Das duas uma: ou a minha vida começa a ser mais de cão ou emigro para a Austrália para viver com os koalas.


[ on an island in the sun, we’ll be playing and having fun... and it makes me feel so fine I can’t control my brain. ]
Lorelai
Música: "The Man In The Mirror", Michael Jackson
A partir de um comentário da K. no último post, apercebi-me de que, para mim, existem duas realidades bastante distintas: o ser-se cobarde e, por outro lado, o ser-se apenas extremamente inseguro. São coisas muito diferentes, mas, não-raras vezes, interpretadas por aqueles que estão de fora como exactamente a mesma coisa.

Como ser original está a tornar-se muito last season, vou recorrer novamente ao tema do tópico anterior para exemplificar: Harry Potter ou, mais propriamente, Ron Weasley.

A K. diz que o Ron é cobarde e foi daí que este post nasceu: eu discordo por completo. Quem tiver lido os livros do Harry Potter (repito: lido os livros - não é ver os filmes), sabe que o Ron foge muitas vezes de enfrentar os seus medos - mas é o primeiro a saltar em frente para defender aqueles que ama e aquilo que considera verdadeiramente importante. Ora onde começa o cobarde e acaba o inseguro?

Um cobarde, para mim, não é alguém que foge dos seus medos - isso todos nós fazemos enquanto seres humanos. Ao sermos humanos temos inteligência (ou assim se espera) e, logicamente, o melhor para nós próprios, regra geral, não implica mergulharmos de cabeça em algo que receamos profundamente.

A meu ver, um cobarde é alguém que foge dos seus medos mesmo quando isso implica perder algo de verdadeiramente importante. Nessa categoria existe uma vasta panóplia de opções: uma pessoa, um ideal, um sonho. Cobarde é quem não luta por aquilo em que acredita, por aqueles em quem acredita.

Uma pessoa insegura não é necessariamente um cobarde, do mesmo modo que acredito que nem todos os cobardes são pessoas inseguras. Muitas vezes são meramente fracas. E uma pessoa pode ser insegura e não ser fraca.

As inseguranças nascem das mais variadas formas, pelos mais diversos motivos; nem todos têm a sorte de ter uma existência perfeita que proporcione uma segurança pessoal inesgotável. Essas inseguranças podem - e usualmente procuram precisamente - tomar conta de nós. Um cobarde deixar-se-á afundar nelas; mas é preciso muita coragem para enfrentá-las nos momentos certos e crescer a partir delas - que é precisamente o que o Ron faz.

É uma metáfora e nada mais do que isso; mas identifico-me com o Ron nesse aspecto. Não me considero cobarde - se bem que outros possam clamar que o sou, chi sa com razão; mas sei, de certeza certa, que sou muito insegura. De qualquer modo, cresci com essas inseguranças, lutando contra elas, procurando desvanecê-las, senão mesmo extingui-las. Com mais ou menos sucesso, é esse o caminho que tenho trilhado e foi por aí que cresci. Cobarde? Não. Insegura? Sem dúvida, mas com a coragem de remar contra a maré.



[ There are all kinds of courage. ]
Lorelai
Música: "All You Wanted", Michelle Branch
Numa das minhas conversas telefónicas do costume com a K., pergunta-me ela (aparentemente do nada): "Ele agora é o Voldemort?"

"O quê?", pergunto eu deste lado da linha, sem perceber de imediato onde ela queria chegar.

"Não podes dizer o nome dele?*", aqui estava a conclusão da K. - acertada, aliás (por esta altura já devia saber que a K. nunca diz este género de coisas sem motivo - por muito loucas e completamente inesperadas que sejam).

"É, é isso", concordo eu, sentindo-me ligeiramente envergonhada. "Aquele Cujo Nome Não Deve Ser Pronunciado. Ultimamente voltou a ser um bocado isso, sim. E quem quiser, que seja o Harry ou mesmo a Hermione e diga o nome dele; eu hei-de continuar a ser o Ron".

O Dumbledore diria que o medo do nome serve apenas para aumentar o medo da coisa em si; mas isto não se trata tanto de medo como da minha recente alergia ao masoquismo. E, para além disso, vejamos os factos: o Dumbledore dizia o nome do Quem-Nós-Sabemos e, bem, morreu; o Harry também o dizia e quase acabou a ir pelo mesmo caminho quando o nome virou tabu. Que isto sirva de lição, especialmente a quem, por mero acaso, acaba o dia a percorrer os tortuosos caminhos down Memory Lane.

*(E é por estas e por outras tiradas da K. que eu sei que a nossa amizade reside também - e algumas vezes, muito especialmente - nos silêncios e nas palavras que ficam ditas por dizer).


[ Just because you've got the emotional range of a teaspoon doesn't mean we all have. ]
Lorelai
Música: "The Journey", Mpulz
Acordei veementemente convencida de que hoje era dia 10 (os porquês de tal convicção são algo que me ultrapassa por completo). O calendário embirra que é dia 11. Ora, eu não me importo e até fico muito feliz; é que ser dia 11 e não 10 significa que, tecnicamente, já me faltam menos de 3 meses para finalizar o estágio e partir para outras aventuras. Quais, ainda não se sabe e não se saberá por bastante tempo mais; mas, sejam elas quais forem, não me restam dúvidas de que serão aliciantes.


[ don't let your life pass you by. ]
Lorelai
Música: "What Makes You Different (Makes You Beautiful)", The BackStreet Boys
Não sei se terá sido do frio enregelante, se terá sido do Sol que decidiu finalmente despontar ou da luz reflectida nos edifícios, mas esta manhã enquanto caminhava pela calçada portuguesa de Lisboa apercebi-me de que vai ficar tudo bem. Fases são apenas isso mesmo e nem sempre tudo pode ser perfeito (se é que alguma vez o é).

Por saber que vai ficar tudo bem - que eu, eventualmente, estarei bem e bem melhor que nos últimos tempos - enchi-me de vontade e vim aqui a esta caixinha de memórias, sem receio de lhe tirar as teias de aranha e de lhe limpar o pó para recordar fotografias antigas. Apenas porque memórias não são mais que memórias, boas ou más, que ganham uma nova vida conforme as diferentes luzes que nos vão iluminando.

Dizem que recordar é viver; eu assino por baixo mas acrescento que, não raras vezes, o melhor mesmo é parar de recordar e, muito simplesmente, começar a viver.

[ it's clearer inside of me. ]