Música: "Cool", Gwen Stefani
«Amor platônico, na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de gêneros diferentes - como num caso de amizade pura, entre duas pessoas.
Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, da qual surgiu a atual idéia grosseira, o filósofo grego da Antigüidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O Amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse (mesmo o sexual), mas na virtude.»
No sentido puro e original do termo, falar de paixões platónicas é um completo absurdo. Porém, é igualmente ilógica a utilização mais comum que as pessoas dão à filosofia do "amor platónico": um amor inalcançável, impossível, usualmente carregado de uma tremenda atracção física, sendo a generalização mais comum apenas correcta no que toca à idealização do sentimento.
Porquê essa incorrecção? Não faço ideia e pouco importa para o caso. Aquilo de que quero falar veio de uma conversa com a M. e a L. ontem à noite. A L. estava a falar de uma "paixão platónica" recente, ao que eu e a M. reagimos com uma gargalhada.
"Que tem?", perguntou a L.
"Paixão platónica é um bocado difícil, oh L.", respondeu a M. "Quanto muito, seria amor platónico".
Só que, surpresa, o que a L. queria dizer não se referia, de todo, a um sentimento de amizade pura, sem qualquer tensão sexual. Antes pelo contrário.
O que, em certa medida, lança a questão: existe ou não amor platónico? Seremos capazes de nos relacionar com o sexo oposto numa base de amizade pura, sem qualquer outro interesse - sexual ou não? Existe este amor idealizado? Teria Platão razão quando afirmava que o Amor se deveria basear na virtude e não nesses precisos interesses de naturezas diversas?
Do meu ponto de vista, Amizade e Amor são dimensões distintas, mas que, na minha opinião, não podem existir uma sem a outra. São necessariamente codependentes. Para mim, Amor sem Amizade não é amor, mas sim mera paixão; e a Amizade conflui inevitavelmente para um certo nível de Amor - somente não do mesmo género de Amor a que me refiro anteriormente.
Paixão existe sem Amor e Amor pode existir sem Paixão: mas não o género de amor que usualmente definimos por essa palavra na Língua Portuguesa (sem acordo ortográfico, já agora). Quando uma pessoa é realmente importante na nossa vida, claro que a iremos amar; mas não quer dizer que a amemos daquela determinada maneira. Pode, sim, ser o tal amor platónico. Puro, ideal, incondicional. Sem outros interesses anexados.
No entanto, o Amor, aquele Amor, nunca poderá conviver com o platónico. Como poderia? Talvez também possa ter o seu Q de pureza e até ser incondicional; mas ideal? Duvido. Não porque não acredite no Amor, não porque pense que as relações amorosas têm todas um prazo de validade - porque, apesar de tudo, não acredito. Mas, muito simplesmente, seria desafiar as Leis da Física. É pedir demasiado que tanto ocupe um mesmo espaço.
Amor - aquele Amor - implica uma partilha demasiado profunda, demasiado pessoal. Claro que há interesses, claro que há divergências, claro que se procura alcançar um ideal - e talvez até seja possível alcançá-lo, mas implica trabalho. Empenho. Esforço. Não se estala e ele aparece perfeito. Não é dotado, por natureza, do ideal.
Talvez não seja apenas inerente às relações amorosas, mas a todas as relações humanas; mas, quando estas se aproximam do Amor, existe necessariamente um esforço em busca do ideal. Mesmo na amizade. Se amamos, esforçamo-nos pelo ideal. Haja ou não interesses de outra natureza implicados.
«Amor platônico, na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de gêneros diferentes - como num caso de amizade pura, entre duas pessoas.
Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, da qual surgiu a atual idéia grosseira, o filósofo grego da Antigüidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O Amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse (mesmo o sexual), mas na virtude.»
in Wikipedia
No sentido puro e original do termo, falar de paixões platónicas é um completo absurdo. Porém, é igualmente ilógica a utilização mais comum que as pessoas dão à filosofia do "amor platónico": um amor inalcançável, impossível, usualmente carregado de uma tremenda atracção física, sendo a generalização mais comum apenas correcta no que toca à idealização do sentimento.
Porquê essa incorrecção? Não faço ideia e pouco importa para o caso. Aquilo de que quero falar veio de uma conversa com a M. e a L. ontem à noite. A L. estava a falar de uma "paixão platónica" recente, ao que eu e a M. reagimos com uma gargalhada.
"Que tem?", perguntou a L.
"Paixão platónica é um bocado difícil, oh L.", respondeu a M. "Quanto muito, seria amor platónico".
Só que, surpresa, o que a L. queria dizer não se referia, de todo, a um sentimento de amizade pura, sem qualquer tensão sexual. Antes pelo contrário.
O que, em certa medida, lança a questão: existe ou não amor platónico? Seremos capazes de nos relacionar com o sexo oposto numa base de amizade pura, sem qualquer outro interesse - sexual ou não? Existe este amor idealizado? Teria Platão razão quando afirmava que o Amor se deveria basear na virtude e não nesses precisos interesses de naturezas diversas?
Do meu ponto de vista, Amizade e Amor são dimensões distintas, mas que, na minha opinião, não podem existir uma sem a outra. São necessariamente codependentes. Para mim, Amor sem Amizade não é amor, mas sim mera paixão; e a Amizade conflui inevitavelmente para um certo nível de Amor - somente não do mesmo género de Amor a que me refiro anteriormente.
Paixão existe sem Amor e Amor pode existir sem Paixão: mas não o género de amor que usualmente definimos por essa palavra na Língua Portuguesa (sem acordo ortográfico, já agora). Quando uma pessoa é realmente importante na nossa vida, claro que a iremos amar; mas não quer dizer que a amemos daquela determinada maneira. Pode, sim, ser o tal amor platónico. Puro, ideal, incondicional. Sem outros interesses anexados.
No entanto, o Amor, aquele Amor, nunca poderá conviver com o platónico. Como poderia? Talvez também possa ter o seu Q de pureza e até ser incondicional; mas ideal? Duvido. Não porque não acredite no Amor, não porque pense que as relações amorosas têm todas um prazo de validade - porque, apesar de tudo, não acredito. Mas, muito simplesmente, seria desafiar as Leis da Física. É pedir demasiado que tanto ocupe um mesmo espaço.
Amor - aquele Amor - implica uma partilha demasiado profunda, demasiado pessoal. Claro que há interesses, claro que há divergências, claro que se procura alcançar um ideal - e talvez até seja possível alcançá-lo, mas implica trabalho. Empenho. Esforço. Não se estala e ele aparece perfeito. Não é dotado, por natureza, do ideal.
Talvez não seja apenas inerente às relações amorosas, mas a todas as relações humanas; mas, quando estas se aproximam do Amor, existe necessariamente um esforço em busca do ideal. Mesmo na amizade. Se amamos, esforçamo-nos pelo ideal. Haja ou não interesses de outra natureza implicados.
[ You could claim that anything's real if the only basis for believing in it is that nobody's ever proved that it doesn't exist. ]