Lorelai
Música: "Ironic", Alanis Morissette

Quebraste-me a minha predisposição para a escrita. E, de todas as coisas que levaste, é essa a que me faz mais falta.


[ it's like ten thousand spoons when all you need is a knife. ]
Lorelai
Música: "The Reason", Hoobastank

Falta. Falta-me. Não sei exactamente o quê, mas falta-me.

Saudades. Nem sei bem de quê, nem de quem; mas tenho saudades.

Dele. Ou dele. Talvez de ambos e de mais algumas pessoas. De outra vida. De cenários desfeitos numa noite de tumultuosa tempestade, máscaras levadas pela chuva, palavras fugidas com o vento.

Tempos mais fáceis, ou nem tanto, mas que não mais voltam. Porque o que foi não volta a ser, mesmo que muito se queira. Ar, ar em abudância e sem me querer saltar do peito. Aquela alegria, aquela esperança infantil em algo melhor. Inocência, ignorante inocência.

Falta. Falta-me. Não sei exactamente o quê, ou quem... mas falta-me.


[ acredito e entendo que a estabilidade lógica de quem não quer explodir faça bem ao escudo que és. ]
Lorelai
Música: "I Don't Know You Anymore", Savage Garden
I've found almost everything ever written about love to be true. Shakespeare said "Journeys end in lovers meeting". What an extraordinary thought. Personally, I have not experienced anything remotely close to that, but I am more than willing to believe Shakespeare had.

I suppose I think about love more than anyone really should. I am constantly amazed by its sheer power to alter and define our lives. It was Shakespeare who also said "love is blind". Now that is something I know to be true. For some, quite inexplicably, love fades; for others, love is simply lost. But then, of course, love can also be found, even if just for the night.

And then, there's another kind of love: the cruelest kind. The one that almost kills its victims. Its called unrequited love. Of that I am an expert. Most love stories are about people who fall in love with each other. But what about the rest of us? What about our stories, those of us who fall in love alone? We are the victims of the one sided affair. We are the cursed of the loved ones. We are the unloved ones, the walking wounded. The handicapped without the advantage of a great parking space! Yes, you are looking at one such individual.


Iris, «The Holiday»
Lorelai


Lorelai
Música: "Look What You've Done", Jet

Em certos dias, tenho para mim que o amor é mais ou menos como um OVNI. Nunca se conseguiu provar que existe de facto, ainda que haja uma série de indícios e milhentas teorias da conspiração que afirmam que sim. Uma data de gente dedica toda a vida à sua busca. Mesmo quando visto com os próprios olhos, é difícil convencer a nossa mente do que se acabou de ver. Nunca, excepto num acto da mais pura fé, se acredita que nos pode acontecer a nós próprios sermos testemunhas de tal facto. E quando se pensa que a tal ideia inconcebível se tornou, na realidade, um facto, chegam-nos novas provas, indiscutíveis e finalíssimas, de que o que era pura ficção científica nunca passou disso mesmo.


[ the world scares you, so you wrap it up neatly in bonds of reason, education and proof. all riddles are solvable to you, except for one. the riddle you can't solve is how somebody could love you. ]
Lorelai
Música: "Carta", Toranja

«Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa não é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que eu quero fazer é o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga Inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é hoje capaz de se apaixonar assim?

Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão , fazem planos e à mínima merdinha entram “em diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica da camaradagem. A paixão, que deveria ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desequilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho” sentimental. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor é para nos amar, para levar-nos de repente ao Céu, a tempo de ainda apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. Às vezes a vida mata o amor. A “vidinha” é uma conveniência assassina.

O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para se perceber. O amor é um estado de quem se sente.

O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado do que quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.»


Miguel Esteves Cardoso
Lorelai
Música: "Defying Gravity", Lea Michele e Chris Colfer


Quer-se o tempo a passar depressa e o ponteiro dos segundos arrasta-se. Quando estamos a ter um momento perfeito, parece que ele se escapa velozmente. Há vezes que os minutos parecem horas, outras que meses se assemelham a segundos. O tempo chega e instala-se quando não lhe damos valor e, assim que reparamos como ele é importante, pega em armas e bagagens e desaparece sem dar tempo para proferir um mero "adeus, até qualquer dia".

Na ânsia de se chegar a qualquer lado, passa-se ao lado de muita coisa. Até se chegar aos 18 anos não se pensa noutra coisa - a nossa cabeça são planos e mais planos para quando formos "crescidos". E o tempo que não passa.

Depois dessa barreira, é ver o tempo a apressar-se como se não houvesse amanhã. Mas há sempre um amanhã, mesmo que um amanhã com sabor a ontem. E o tempo que se esvai e os planos que se esvaem com ele e os sonhos a ficarem perdidos entre um ponteiro e o outro e nós a querer parar o tempo e ele a seguir caminho, imperturbável. Tique-taque, tique-taque.



[ time goes by so slowly for those who wait. no time to hesitate. ]
Lorelai
Música: "125 Azul", Trovante


Acontece-me com uma certa frequência acordar a meio da noite e, durante alguns segundos, ficar naquele limbo em que não tenho bem a certeza se o sonho é ou não a realidade. E de quando em quando, assim que me apercebo que, afinal, o sonho é só um sonho, dou por mim a desejar com muito força que assim não fosse. Que o sonho fosse mais do que isso. Ou que eu vivesse dentro desse sonho.

Usualmente, quando isso me acontece são cenários bastante verosímeis. Simplesmente, era a perfeição da minha vida dita normal. O alcançar de este ou aquele objectivo. Estar com quem mais e melhor quero neste Mundo. Sonhos cujos porquês eu consigo identificar, cuja origem eu conheço como a palma da minha mão.

O que ainda nunca me tinha acontecido era ter um sonho tão vívido de um cenário tão pouco realista, tão pouco justificado, tão totalmente inesperado - e que, contudo, tinha o condão de parecer a epítome da perfeição. Não eram OVNI's, não eram viagens intergalácticas; o enredo do sonho em si era do mais corriqueiro que se possa imaginar. Simplesmente, os intervenientes do sonho desempenharem os papéis em questão tornavam-no digno de figurar entre as mais extraordinárias obras de ficção científica.

São sonhos.


[ this is like that moment in the morning when you first wake up and you're still half asleep and everything seems... things are possible, dreams feel true and for that one moment between waking and dreaming, anything can be real. ]
Lorelai
Música: "Heal The World", Michael Jackson



O melhor sentimento do Mundo é quando consigo imaginar isto mesmo - e quando acredito que não sou a única que o faz. Ainda que me faça chorar sempre que vejo este vídeo.


[ hush, now; i see a light on the sky. ]
Lorelai
Música: "Leva-me Contigo", Duarte Rosado


Para suavizar memórias de sentimentos de muitos anos volvidos, quando lágrimas teimosas assomam aos olhos, não há como esvaziar a mente e sentar-me apenas a observar o pôr-do-sol, o azul escurecendo cada vez mais enquanto brinca com os tons de rosa, de laranja e violeta. Talvez porque tenhamos tido inúmeros amanheceres, mas nunca nenhum pôr-do-sol; e, de tanto em tanto, há dias em que acredito que somente isso tenha sido o que sempre nos faltou.


[ i would never change a thing, even if i could - all the songs we used to sing, everything was good. ]
Lorelai
Música: "Every Day Is A Winding Road", Sheryl Crow


Algumas das pessoas que mais me disseram na minha vida, já não fazem parte dela. É uma mera constatação. Pessoas de muitos e muitos anos atrás, outras nem tanto. Em algumas ainda penso recorrentemente, noutras tal só acontece se, por um daqueles acasos, sou relembrada da sua existência, passada ou presente.

Para além dessas pessoas que foram mesmo muito importantes, existem as outras. Aquelas que, sem terem tido uma passagem vital pela minha vida, fizeram parte do meu dia-a-dia durante um longo período de tempo. E habituamo-nos mutuamente àquela vivência quotidiana. E, sem sermos os melhores amigos que já pisaram o planeta, apreciamos a companhia um do outro, rimo-nos e passamos bons momentos juntos. Daqueles momentos do dia-a-dia, daqueles que, daqui a meia dúzia de anos, não nos recordaremos a menos que submetidos a forte hipnose ou profunda psicanálise.

O que não significa que não façam falta. Tanto umas como as outras. As verdadeiramente especiais e aquelas não tão marcantes, mas que ficaram. Por vezes, dá saudades. Por outras, não me posso impedir de achar hilariante - e, não nego, até um pouco injusto - que outras pessoas da minha vida, aquelas que marcaram pelas piores razões, venham depois, por curvas e contra-curvas da vida, a fazer parte da vida daquelas pessoas, as verdadeiramente especiais e as não tão marcantes, mas que ficaram. Um pouco como se alguém que me é querido, por quem tenho um carinho especial, esteja agora à mercê de, mais cedo ou mais tarde, ser magoado por quem já me magoou. Ainda por cima, quando esse alguém tem o privilégio, indubitavelmente sem se aperceber, de estar com pessoas com o condão de serem verdadeiramente especiais ou não tão marcantes, mas que ficam.



[ tomorrow you'll be thinking to yourself "where did it all go wrong?" - but the list goes on and on and on.. ]
Lorelai
Música: "Gives You Hell", All American Rejects

“I’ll tell you who you are. You’re a scared little boy. I just see you for who you are, unlike you who could only see me as this silly girl who made a fool out of herself. And that’s where you lose; because if you take a second look at me, you would realize that I’m the only person in your life who knows you and accepts you for who you are no matter what.”

«Rachel», Glee



[ and truth be told, i miss you; and truth be told - i'm lying. ]
Lorelai
Música: "Hometown Glory", Adele

A vida deve ser mais do que responsabilidades, trabalho e busca incessante por dinheiro; a vida não deve ser feita de meros objectivos materiais. A vida tem que ser obrigatoriamente momentos, momentos que, ao fim do dia, valem realmente a pena. A vida não é chegar aqui e passar ao lado de tudo, qual animal de carga com palas nos olhos, obecendo cegamente a quem o obriga a seguir aquele e só aquele caminho.

A vida é viver. Saltar, rir, correr, berrar, soltar uma grande gargalhada só porque apetece, mesmo que a situação não fosse a mais própria para tal. A vida é fazer parvoíces, é ser genuíno. Senão, não é uma vida digna de tal nome.

Por isso é que quando me dizem "Pareces uma criança" ou me perguntam "Mas tu nunca hás-de crescer, pois não?", no tom de maior desprezo que conseguem arrancar, algo dentro de mim entra em turbilhão e arde por responder "Muitíssimo obrigada, sois demasiado gentil" e "Não, realmente não - pelo menos se isso significar deixar de saber ser eu, deixar de saber gozar a vida".

Sou criança, sou; só desejo, com todas as células do meu ser, nunca me esquecer de como sê-lo. No dia em que viver signifique meramente responsabilidades, dinheiro e caminhos previamente traçados, hei-de olhar para o lado, rir-me com desdém e dissidir desta existência.


[ we all need to believe, that we can wake up in the dream - it's not as hard as it seems. ]
Lorelai
Música: "Teardrop", Massive AttackCriamos imagens tão perfeitas e detalhadas de desejos e ilusões, recriamos indefinidamente diálogos e reacções, realizamos vezes e vezes sem conta aquela cena, aquele take, que nos esquecemos que o que estamos a construir na nossa mente não é, de facto, a realidade - não antes de ela acontecer. Antecipamos aquele grande momento, o clique que irá mudar a nossa vida e, descuidadamente, cometemos o erro de principiante de não colocar um pé à frente do outro, quem sabe se arriscando tudo. E quando, finalmente, chega a hora esperada... sabe-nos a pouco, a muito pouco, quando outrora dependia de nós apenas criar e recriar os melhores cenários para o nosso próprio filme.




[ the problem is the world doesn't work that way just because you want it to. ]
Lorelai
Música: "Fix You", Coldplay
Em certos momentos, desejo muito, mas muito mesmo, que não tivessem passado tantos anos, que não tivessemos seguido caminhos separados, que não fossemos hoje autênticos estranhos. Dou por mim a desejar muito, mas muito mesmo, que por mero e total acaso esbarrássemos no meio da rua, talvez ao portão da nossa antiga escola onde nos encontrávamos todas as manhãs - e que nesse momento, tantos anos depois, não fossemos mais duas crianças que não sabiam bem ao que andavam e que tudo, mas tudo resultasse de modo diferente.

Porque em certos momentos, dou por mim a desejar muito, mas muito mesmo, que eu não tivesse deixado de ser uma idealista romântica (como era contigo) para me tornar um pouco céptica demais, com o resto do Mundo.



[ when you lose something you can't replace... ]
Lorelai
Música: "My Life Would Suck Without You", Kelly Clarkson

"És doida varrida".

"Eu sei, mas eu gosto assim".

Sem qualquer ponta de ironia ou espécie alguma de amargura. A K. tem toda a razão quando afirma que eu sou louca; mas a verdade é que eu não consigo imaginar-me a ser outra pessoa - ou uma com menos manias estranhas. Sem elas, a minha vida perdia a piada toda.

Gosto assim. Mesmo.



[ life isn't about finding yourself. life is about creating yourself. ]
Lorelai
Música: "Little House", by Amanda Seyfried

Apeteceu-me sonhar que na minha vida havia uma daqueles histórias de filme ou contos-de-fada, daquelas histórias de amor perante as quais todos se riem cinicamente, "isso só acontece nos romances".

Apeteceu-me sonhar que tinha encontrado o amor no meu melhor amigo de infância, alguém com quem puderia ter sempre contado, desde o jardim-de-infância, alguém que nunca, mas nunca me deixaria ficar mal.

Apeteceu-me sonhar que era assim tão fácil: aquele meu alguém ser colocado ali ao lado, logo de início e para não mais fugir, sem enrendos dramáticos de intricada obra.

Apeteceu-me sonhar que a vida era sempre simples e feliz, sem obrigações e feita apenas de alegria, sem lágrimas e só com gargalhadas ao sol, sem problemas e só cheia de diversões.

Apeteceu-me sonhar que, quando os problemas acontecem, não os tenho de encarar sozinha e sem um abraço reconfortante de alguém que nos conhece melhor do que à própria alma.

Apeteceu-me sonhar e sonhei; depois acordei e empenhei-me em convencer-me que, nestas coisas de "mundo real", é tudo algo subjectivo e que, em última análise, o que é realidade para nós é mais aquilo que nós queremos do que aquilo que os outros nos impõem.



[ eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer. ]
Lorelai
Música: "We Weren't Born To Follow", Bon Jovi



... hoje seria mesmo o dia para a utilizar mesmo a sério. Para amaldiçoar uma ou outra pessoa, para enfeitiçar os objectos inanimados que teimaram em me chatear a molécula, para encantar o Sol que se fugiu, para evocar momentos milagrosos. Dia mesmo muito próximo de esquizofrenia, quase-quase de claustrofobia, definitivamente à beira de um ataque de nervos e muito, mesmo muito pouco inspirado, ao ponto de já nem conhecer as palavras da minha próproa Língua. Mesmo.


[ i wish it was Sunday... but it's just another manic Monday. ]

Lorelai
Música: "Clean White Love", Lisa Mitchell


E quando olho para trás, bem lá para trás


e sou capaz de ver o longo, muito longo caminho que percorri


é que me apercebo do quanto cresci


do quanto tenho para me orgulhar

para me sentir feliz


e que sou mais eu do que nunca e que nunca,


mas nunca me senti tão bem com isso.



[ sometimes you just gotta smile. ]
Lorelai
Música: "Beautiful Soul", Jesse McCartney

São aquelas manhãs em que saío de casa às 7h e tal da manhã e não está escuro como breu, em que mesmo que o dia esteja meio enublado se ouvem os pássaros a cantar nas árvores.

São aquelas manhãs em que não me contraio com o frio polar mal ponho o nariz fora de casa e em que começo a pensar que o cachecol começa a ser definitivamente dispensável.

São aqueles dias em que na hora de almoço só apetece aproveitar uns quinze minutinhos de pausa para absorver ao máximo os primeiros raios de sol minimamente quentes, mesmo que ao aparecer uma nuvem que os faz desaparecer fique completamente congelada.

São aquelas tardes em que até que apetece levar o caminho mais longo para casa, andar um pouco mais ao ar livre, respirar fundo e permitir-me um glorioso momento de pausa a sentir o vento, seja quente ou seja frio.

São aqueles inícios de noite em que o sol só desaparece à hora de jantar e não logo às cinco da tarde, aqueles tons laranja que nos lembram insistentemente que o Verão já não está assim tão longe (se ao menos tivermos um pedacinho de perspectiva).

São aqueles fins-de-semana em que os jogos de futebol a meio/fim de tarde já não parecem ser de noite mas sim realmente de tarde, em que só apetece que chegue Maio, em que parece que o fim de campeonato e a Taça de Portugal estão já aqui.

São as árvores a ganhar flor, são as flores a ganharem vida, é a relva mais verde, é tudo com mais cor, com mais música e mais poesia.

É aquele ambiente que relembra dias mais simples, dias mais sinceros, dias mais puros, dias tão distantes mas que com este cheiro a Primavera parecem ser os dias de agora. É aquele ambiente que nos assegura que dias melhores, mas talvez não tão simples, estão bem ao virar da esquina, se ao menos acreditarmos um pouco mais.

Porque tão certo como a Primavera estar a chegar, esses dias já foram mas esses dias hão-de voltar. A pouco e pouco, algo tímida e lentamente, como ela; mas que vêm aí, com passo seguro, disso não resta dúvida.



[ bella come una mattina d'acqua cristallina, come una finestra che m'illumina il cuscino. ]

Lorelai
Música: "Imagine", John Lennon

Um dos motivos pelos quais sei que a dança é das coisas mais perfeitas e poderosas do Mundo, quando é interpretada com coração. Como o Mundo deveria ser... em formato «pas de deux».




Coreografia de Dwight Rhoden e Desmond Richardson, interpretada por Will Wingfield e Katee Shean
Lorelai
Música: "How To Save A Life", The Fray

Magnífico Reitor, Exma. Senhora Directora, Exmo. Sub-Director, Caros Professores, Caros Funcionários, Caros colegas, Caros familiares, minhas senhoras e meus senhores...

Este é o meu discurso em meu nome, em minha representação. Estas são as minhas palavras, por mim - e por mais ninguém. Isto é tudo o que gostaria de dizer quando me pediram para falar em público - mas que não faria sentido em tal cenário.

Cheguei a esta Faculdade por mero acaso. Nunca antes havia sequer ponderado entrar para esta Universidade. O meu futuro estava delineado perfeitamente por mim - e nunca, nem por um mero nano-micro-segundo, eu ponderei entrar nesta Faculdade. Mas, por um mero acaso, fui forçada a ponderá-lo e quando o fiz, algo me fez decidir que sim, aquele era o meu sítio. E então o meu plano de vida, tão cuidadosamente delineado ao longo de tantos anos, esfumou-se e foi radicalmente alterado de um momento para o outro, quase num impulso de Verão.

E ainda bem que o foi. Hoje sei que era meu destino ir para a Faculdade que fui, conhecer as pessoas que conheci, ainda que nem tudo - e nem todos - tenha sido bom. Contudo, fez de mim quem eu hoje sou. Conheci das melhores - e das piores - pessoas de sempre, vivi mais do que poderia imaginar há quatro anos atrás, fiz amizades mais valiosas que o ouro e lancei fundações mais fortes que o Homem de Aço (um que fosse resistente à kriptonite, inclusive).

Aprendi que o Universo sabe bem o que faz e que, por vezes, nos destrói todo e qualquer plano que tivessemos, só para nos levar para onde temos que ir. «O Universo sabe o que faz», dizia alguém que alterou por completo a minha visão da vida - e esse tornou-se o meu lema de vida.

Aprendi que as amizades vão e vêm, mas que aquelas verdadeiras ficam e não mais partem.

Aprendi que não raras vezes, aquelas pessoas que mais amamos são as que mais nos magoam - e são também as que nos dão as maiores lições de vida e nos dão a bagagem necessária para estarmos mais aptos para desilusões (ou nem tanto) futuras.

Aprendi que quase sempre dou demasiado de mim a quem não merecia nem metade, sem jamais receber o devido em retorno; mas aprendi também que, desde que o faça em consciência, consigo lidar com o desapontamento e crescer a partir daí.

Aprendi que sou mais forte do que pensava, que sei mais do que imaginava, que tenho o Mundo na palma da minha mão se ao menos tiver a coragem de o agarrar.

Aprendi que eu sou apenas eu, uma pessoa insignificante no meio de 6 biliões de outras, mas aprendi também que basta uma pessoa para fazer a mudança. E eu quero fazê-la, como a fiz na minha vida ao longo de 3 anos.

Acreditar sempre, sonhar sempre, ir sempre mais longe, sem chorar na adversidade mas aproveitando-a sempre como uma oportunidade de ir mais longe. Forçar as barreiras, deitá-las abaixo e seguir em frente, porque por aí é que é o caminho.

Obrigada a todos os que estiveram e ficaram comigo - e àqueles que vão ficar sempre no meu coração mesmo que não se mantenham na minha vida. E muito em especial, obrigada a todos os que me magoaram, me desiludiram, me deitaram abaixo e me fizeram duvidar de mim: só me fizeram ser mais forte, acreditar mais, crescer para lá do possível e ter a confiança suficiente para dar o maior salto de fé - acreditar em mim mesma.

(E nunca hei-de esquecer quem me ajudou e quem pude ajudar, quem ainda hoje me dá um sorriso sincero quando me vê, quem partilhou comigo inúmeros cafés do Sr. António. Nunca hei-de esquecer tantas aulas de tantos professores, tantas parvoíces que foram feitas e ditas, tantos momentos fossem de trabalho e estudo ou nem tanto. Nunca hei-de esquecer que muito começou - e muito acabou - nesta Faculdade, nestes três anos. Aí ficam, com saudade).

- L.



[ it's hard to say it - it's time to say it: goodbye, goodbye. ]
Lorelai
Música: "That's What She Said", Brian Littrell

Certamente não há ninguém que não tenha já passado pelo mesmo: a determinada altura sentimos que existe alguém que nos é absolutamente indispensável – ou, até, que somos totalmente necessários a essa outra pessoa. E, nesse momento específico, preenche-nos uma convicção inabalável de que assim é. Um cenário fora dessa espécie de dependência parece, de todo, risível.

E aí acontece a vida. E, por um motivo ou por outro, essa pessoa sai da nossa – ou saímos nós. E aquilo que parecia impossível, acontece. Somos nós sem essa pessoa na nossa vida. E, atenção, que isto não se trata apenas de relações amorosas; acontece recorrentemente em amizades. Não se consegue explicar, muitas vezes nem se pressente, mas, subitamente, vemo-nos nesse tal cenário que nunca considerámos sequer exequível. E, então, o que se faz?

Continua-se. E, um dia, mais tarde, reparamos que, afinal, não éramos assim tão indispensáveis – nem que essa outra pessoa nos fosse realmente tão necessária. Até podemos ter saudades, até podemos cair numa certa nostalgia a dado momento; só que, na realidade, continuamos a ser nós, porque o que nunca poderíamos de modo algum substituir era a nossa vida.


2009.10.16


[ who’s gonna drive you home tonight? ]
Lorelai
Música: "I Could Say", Lily Allen
Ultimamente parece que há uma qualquer alergia a estar só. Esta constatação vai desde namoros de conveniência a uma necessidade extrema de combinar sempre uma qualquer actividade com outras pessoas - quaisquer pessoas que sejam.

Em conversa com a X., que já não via há imenso tempo, descobri que também ela partilha deste ponto de vista: parece que as pessoas já não sabem apreciar a própria companhia. É como se estar sozinho - por um momento que seja - fosse a maior maldição da História.

Ora, modéstias à parte, eu não gosto da minha companhia; eu adoro a minha companhia. Sem desprimor pelos momentos em família e com os meus amigos (que adoro igualmente), a verdade é que aprecio profundamente aqueles momentos só meus. Seja a fazer o que for - ou mesmo a não fazer nada. Gosto de passar tempo só comigo e faz-me bem.

À vista desta pandemia "estar-com-gente-só-para-não-estar-sozinho", que ameaça tornar-se mundial, aconselho a todos que descubram a felicidade de passar some quality time com vocês próprios. Recomenda-se.


[ well, there's nothing to lose and there's nothing to proof - i'll be dancing with myself. ]
Lorelai
Música: "The Joker", Steve Miller
Martha Beck, autora e colunista, aconselha a fazer a cada dia uma lista de 10 coisas boas na nossa vida. E não vale repetir. Aparentemente, focarmo-nos no bom ao invés dos aspectos negativos da nossa vida torna-nos automaticamente mais optimistas e felizes (yupi, genious is in town!). De qualquer modo, na lista que apresentou, Martha Beck escreveu o seguinte:

Thing Seven: Dogs
Dogs are my favorite role models. I want to work like a dog, doing what I was born to do with joy and purpose. I want to play like a dog, with total, jolly abandon. I want to love like a dog, with unabashed devotion and complete lack of concern about what people do for a living, how much money they have, or how much they weigh. The fact that we still live with dogs, even when we don't have to herd or hunt our dinner, gives me hope for humans and canines alike.


Eu também queria ser como um cão, sim; na minha opinião, a história toda da "vida de cão" está totalmente exagerada. Então se for a vida do meu cão, a sério, eu troco a qualquer momento. As tarefas diárias dele incluem apenas comer e dormir; recebe mais mimos e atenção do que se pode imaginar; e o maior medo dele é banheira. Todos os meus problemas fossem esse e eu vivia mais feliz que um pardal.

Das duas uma: ou a minha vida começa a ser mais de cão ou emigro para a Austrália para viver com os koalas.


[ on an island in the sun, we’ll be playing and having fun... and it makes me feel so fine I can’t control my brain. ]
Lorelai
Música: "The Man In The Mirror", Michael Jackson
A partir de um comentário da K. no último post, apercebi-me de que, para mim, existem duas realidades bastante distintas: o ser-se cobarde e, por outro lado, o ser-se apenas extremamente inseguro. São coisas muito diferentes, mas, não-raras vezes, interpretadas por aqueles que estão de fora como exactamente a mesma coisa.

Como ser original está a tornar-se muito last season, vou recorrer novamente ao tema do tópico anterior para exemplificar: Harry Potter ou, mais propriamente, Ron Weasley.

A K. diz que o Ron é cobarde e foi daí que este post nasceu: eu discordo por completo. Quem tiver lido os livros do Harry Potter (repito: lido os livros - não é ver os filmes), sabe que o Ron foge muitas vezes de enfrentar os seus medos - mas é o primeiro a saltar em frente para defender aqueles que ama e aquilo que considera verdadeiramente importante. Ora onde começa o cobarde e acaba o inseguro?

Um cobarde, para mim, não é alguém que foge dos seus medos - isso todos nós fazemos enquanto seres humanos. Ao sermos humanos temos inteligência (ou assim se espera) e, logicamente, o melhor para nós próprios, regra geral, não implica mergulharmos de cabeça em algo que receamos profundamente.

A meu ver, um cobarde é alguém que foge dos seus medos mesmo quando isso implica perder algo de verdadeiramente importante. Nessa categoria existe uma vasta panóplia de opções: uma pessoa, um ideal, um sonho. Cobarde é quem não luta por aquilo em que acredita, por aqueles em quem acredita.

Uma pessoa insegura não é necessariamente um cobarde, do mesmo modo que acredito que nem todos os cobardes são pessoas inseguras. Muitas vezes são meramente fracas. E uma pessoa pode ser insegura e não ser fraca.

As inseguranças nascem das mais variadas formas, pelos mais diversos motivos; nem todos têm a sorte de ter uma existência perfeita que proporcione uma segurança pessoal inesgotável. Essas inseguranças podem - e usualmente procuram precisamente - tomar conta de nós. Um cobarde deixar-se-á afundar nelas; mas é preciso muita coragem para enfrentá-las nos momentos certos e crescer a partir delas - que é precisamente o que o Ron faz.

É uma metáfora e nada mais do que isso; mas identifico-me com o Ron nesse aspecto. Não me considero cobarde - se bem que outros possam clamar que o sou, chi sa com razão; mas sei, de certeza certa, que sou muito insegura. De qualquer modo, cresci com essas inseguranças, lutando contra elas, procurando desvanecê-las, senão mesmo extingui-las. Com mais ou menos sucesso, é esse o caminho que tenho trilhado e foi por aí que cresci. Cobarde? Não. Insegura? Sem dúvida, mas com a coragem de remar contra a maré.



[ There are all kinds of courage. ]
Lorelai
Música: "All You Wanted", Michelle Branch
Numa das minhas conversas telefónicas do costume com a K., pergunta-me ela (aparentemente do nada): "Ele agora é o Voldemort?"

"O quê?", pergunto eu deste lado da linha, sem perceber de imediato onde ela queria chegar.

"Não podes dizer o nome dele?*", aqui estava a conclusão da K. - acertada, aliás (por esta altura já devia saber que a K. nunca diz este género de coisas sem motivo - por muito loucas e completamente inesperadas que sejam).

"É, é isso", concordo eu, sentindo-me ligeiramente envergonhada. "Aquele Cujo Nome Não Deve Ser Pronunciado. Ultimamente voltou a ser um bocado isso, sim. E quem quiser, que seja o Harry ou mesmo a Hermione e diga o nome dele; eu hei-de continuar a ser o Ron".

O Dumbledore diria que o medo do nome serve apenas para aumentar o medo da coisa em si; mas isto não se trata tanto de medo como da minha recente alergia ao masoquismo. E, para além disso, vejamos os factos: o Dumbledore dizia o nome do Quem-Nós-Sabemos e, bem, morreu; o Harry também o dizia e quase acabou a ir pelo mesmo caminho quando o nome virou tabu. Que isto sirva de lição, especialmente a quem, por mero acaso, acaba o dia a percorrer os tortuosos caminhos down Memory Lane.

*(E é por estas e por outras tiradas da K. que eu sei que a nossa amizade reside também - e algumas vezes, muito especialmente - nos silêncios e nas palavras que ficam ditas por dizer).


[ Just because you've got the emotional range of a teaspoon doesn't mean we all have. ]
Lorelai
Música: "The Journey", Mpulz
Acordei veementemente convencida de que hoje era dia 10 (os porquês de tal convicção são algo que me ultrapassa por completo). O calendário embirra que é dia 11. Ora, eu não me importo e até fico muito feliz; é que ser dia 11 e não 10 significa que, tecnicamente, já me faltam menos de 3 meses para finalizar o estágio e partir para outras aventuras. Quais, ainda não se sabe e não se saberá por bastante tempo mais; mas, sejam elas quais forem, não me restam dúvidas de que serão aliciantes.


[ don't let your life pass you by. ]
Lorelai
Música: "What Makes You Different (Makes You Beautiful)", The BackStreet Boys
Não sei se terá sido do frio enregelante, se terá sido do Sol que decidiu finalmente despontar ou da luz reflectida nos edifícios, mas esta manhã enquanto caminhava pela calçada portuguesa de Lisboa apercebi-me de que vai ficar tudo bem. Fases são apenas isso mesmo e nem sempre tudo pode ser perfeito (se é que alguma vez o é).

Por saber que vai ficar tudo bem - que eu, eventualmente, estarei bem e bem melhor que nos últimos tempos - enchi-me de vontade e vim aqui a esta caixinha de memórias, sem receio de lhe tirar as teias de aranha e de lhe limpar o pó para recordar fotografias antigas. Apenas porque memórias não são mais que memórias, boas ou más, que ganham uma nova vida conforme as diferentes luzes que nos vão iluminando.

Dizem que recordar é viver; eu assino por baixo mas acrescento que, não raras vezes, o melhor mesmo é parar de recordar e, muito simplesmente, começar a viver.

[ it's clearer inside of me. ]