I've found almost everything ever written about love to be true. Shakespeare said "Journeys end in lovers meeting". What an extraordinary thought. Personally, I have not experienced anything remotely close to that, but I am more than willing to believe Shakespeare had.
[ the world scares you, so you wrap it up neatly in bonds of reason, education and proof. all riddles are solvable to you, except for one. the riddle you can't solve is how somebody could love you. ]
O que eu quero fazer é o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga Inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é hoje capaz de se apaixonar assim?
Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão , fazem planos e à mínima merdinha entram “em diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica da camaradagem. A paixão, que deveria ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho” sentimental. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor é para nos amar, para levar-nos de repente ao Céu, a tempo de ainda apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. Às vezes a vida mata o amor. A “vidinha” é uma conveniência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para se perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado do que quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.»
Acontece-me com uma certa frequência acordar a meio da noite e, durante alguns segundos, ficar naquele limbo em que não tenho bem a certeza se o sonho é ou não a realidade. E de quando em quando, assim que me apercebo que, afinal, o sonho é só um sonho, dou por mim a desejar com muito força que assim não fosse. Que o sonho fosse mais do que isso. Ou que eu vivesse dentro desse sonho.
Usualmente, quando isso me acontece são cenários bastante verosímeis. Simplesmente, era a perfeição da minha vida dita normal. O alcançar de este ou aquele objectivo. Estar com quem mais e melhor quero neste Mundo. Sonhos cujos porquês eu consigo identificar, cuja origem eu conheço como a palma da minha mão.
O que ainda nunca me tinha acontecido era ter um sonho tão vívido de um cenário tão pouco realista, tão pouco justificado, tão totalmente inesperado - e que, contudo, tinha o condão de parecer a epítome da perfeição. Não eram OVNI's, não eram viagens intergalácticas; o enredo do sonho em si era do mais corriqueiro que se possa imaginar. Simplesmente, os intervenientes do sonho desempenharem os papéis em questão tornavam-no digno de figurar entre as mais extraordinárias obras de ficção científica.
São sonhos.
“I’ll tell you who you are. You’re a scared little boy. I just see you for who you are, unlike you who could only see me as this silly girl who made a fool out of herself. And that’s where you lose; because if you take a second look at me, you would realize that I’m the only person in your life who knows you and accepts you for who you are no matter what.”
[ and truth be told, i miss you; and truth be told - i'm lying. ]
A vida deve ser mais do que responsabilidades, trabalho e busca incessante por dinheiro; a vida não deve ser feita de meros objectivos materiais. A vida tem que ser obrigatoriamente momentos, momentos que, ao fim do dia, valem realmente a pena. A vida não é chegar aqui e passar ao lado de tudo, qual animal de carga com palas nos olhos, obecendo cegamente a quem o obriga a seguir aquele e só aquele caminho.
A vida é viver. Saltar, rir, correr, berrar, soltar uma grande gargalhada só porque apetece, mesmo que a situação não fosse a mais própria para tal. A vida é fazer parvoíces, é ser genuíno. Senão, não é uma vida digna de tal nome.
Por isso é que quando me dizem "Pareces uma criança" ou me perguntam "Mas tu nunca hás-de crescer, pois não?", no tom de maior desprezo que conseguem arrancar, algo dentro de mim entra em turbilhão e arde por responder "Muitíssimo obrigada, sois demasiado gentil" e "Não, realmente não - pelo menos se isso significar deixar de saber ser eu, deixar de saber gozar a vida".
Sou criança, sou; só desejo, com todas as células do meu ser, nunca me esquecer de como sê-lo. No dia em que viver signifique meramente responsabilidades, dinheiro e caminhos previamente traçados, hei-de olhar para o lado, rir-me com desdém e dissidir desta existência.
[ we all need to believe, that we can wake up in the dream - it's not as hard as it seems. ]
Em certos momentos, desejo muito, mas muito mesmo, que não tivessem passado tantos anos, que não tivessemos seguido caminhos separados, que não fossemos hoje autênticos estranhos. Dou por mim a desejar muito, mas muito mesmo, que por mero e total acaso esbarrássemos no meio da rua, talvez ao portão da nossa antiga escola onde nos encontrávamos todas as manhãs - e que nesse momento, tantos anos depois, não fossemos mais duas crianças que não sabiam bem ao que andavam e que tudo, mas tudo resultasse de modo diferente.
"És doida varrida".
"Eu sei, mas eu gosto assim".
Sem qualquer ponta de ironia ou espécie alguma de amargura. A K. tem toda a razão quando afirma que eu sou louca; mas a verdade é que eu não consigo imaginar-me a ser outra pessoa - ou uma com menos manias estranhas. Sem elas, a minha vida perdia a piada toda.
Gosto assim. Mesmo.
[ life isn't about finding yourself. life is about creating yourself. ]
Apeteceu-me sonhar que na minha vida havia uma daqueles histórias de filme ou contos-de-fada, daquelas histórias de amor perante as quais todos se riem cinicamente, "isso só acontece nos romances".
... hoje seria mesmo o dia para a utilizar mesmo a sério. Para amaldiçoar uma ou outra pessoa, para enfeitiçar os objectos inanimados que teimaram em me chatear a molécula, para encantar o Sol que se fugiu, para evocar momentos milagrosos. Dia mesmo muito próximo de esquizofrenia, quase-quase de claustrofobia, definitivamente à beira de um ataque de nervos e muito, mesmo muito pouco inspirado, ao ponto de já nem conhecer as palavras da minha próproa Língua. Mesmo.
[ i wish it was Sunday... but it's just another manic Monday. ]
[ sometimes you just gotta smile. ]
São aquelas manhãs em que saío de casa às 7h e tal da manhã e não está escuro como breu, em que mesmo que o dia esteja meio enublado se ouvem os pássaros a cantar nas árvores.
São aquelas manhãs em que não me contraio com o frio polar mal ponho o nariz fora de casa e em que começo a pensar que o cachecol começa a ser definitivamente dispensável.
São aqueles dias em que na hora de almoço só apetece aproveitar uns quinze minutinhos de pausa para absorver ao máximo os primeiros raios de sol minimamente quentes, mesmo que ao aparecer uma nuvem que os faz desaparecer fique completamente congelada.
São aquelas tardes em que até que apetece levar o caminho mais longo para casa, andar um pouco mais ao ar livre, respirar fundo e permitir-me um glorioso momento de pausa a sentir o vento, seja quente ou seja frio.
São aqueles inícios de noite em que o sol só desaparece à hora de jantar e não logo às cinco da tarde, aqueles tons laranja que nos lembram insistentemente que o Verão já não está assim tão longe (se ao menos tivermos um pedacinho de perspectiva).
São aqueles fins-de-semana em que os jogos de futebol a meio/fim de tarde já não parecem ser de noite mas sim realmente de tarde, em que só apetece que chegue Maio, em que parece que o fim de campeonato e a Taça de Portugal estão já aqui.
São as árvores a ganhar flor, são as flores a ganharem vida, é a relva mais verde, é tudo com mais cor, com mais música e mais poesia.
É aquele ambiente que relembra dias mais simples, dias mais sinceros, dias mais puros, dias tão distantes mas que com este cheiro a Primavera parecem ser os dias de agora. É aquele ambiente que nos assegura que dias melhores, mas talvez não tão simples, estão bem ao virar da esquina, se ao menos acreditarmos um pouco mais.
Porque tão certo como a Primavera estar a chegar, esses dias já foram mas esses dias hão-de voltar. A pouco e pouco, algo tímida e lentamente, como ela; mas que vêm aí, com passo seguro, disso não resta dúvida.
[ bella come una mattina d'acqua cristallina, come una finestra che m'illumina il cuscino. ]
Um dos motivos pelos quais sei que a dança é das coisas mais perfeitas e poderosas do Mundo, quando é interpretada com coração. Como o Mundo deveria ser... em formato «pas de deux».
Coreografia de Dwight Rhoden e Desmond Richardson, interpretada por Will Wingfield e Katee Shean
Certamente não há ninguém que não tenha já passado pelo mesmo: a determinada altura sentimos que existe alguém que nos é absolutamente indispensável – ou, até, que somos totalmente necessários a essa outra pessoa. E, nesse momento específico, preenche-nos uma convicção inabalável de que assim é. Um cenário fora dessa espécie de dependência parece, de todo, risível.
E aí acontece a vida. E, por um motivo ou por outro, essa pessoa sai da nossa – ou saímos nós. E aquilo que parecia impossível, acontece. Somos nós sem essa pessoa na nossa vida. E, atenção, que isto não se trata apenas de relações amorosas; acontece recorrentemente em amizades. Não se consegue explicar, muitas vezes nem se pressente, mas, subitamente, vemo-nos nesse tal cenário que nunca considerámos sequer exequível. E, então, o que se faz?
Continua-se. E, um dia, mais tarde, reparamos que, afinal, não éramos assim tão indispensáveis – nem que essa outra pessoa nos fosse realmente tão necessária. Até podemos ter saudades, até podemos cair numa certa nostalgia a dado momento; só que, na realidade, continuamos a ser nós, porque o que nunca poderíamos de modo algum substituir era a nossa vida.
2009.10.16
[ who’s gonna drive you home tonight? ]
Ultimamente parece que há uma qualquer alergia a estar só. Esta constatação vai desde namoros de conveniência a uma necessidade extrema de combinar sempre uma qualquer actividade com outras pessoas - quaisquer pessoas que sejam.
Em conversa com a X., que já não via há imenso tempo, descobri que também ela partilha deste ponto de vista: parece que as pessoas já não sabem apreciar a própria companhia. É como se estar sozinho - por um momento que seja - fosse a maior maldição da História.
Ora, modéstias à parte, eu não gosto da minha companhia; eu adoro a minha companhia. Sem desprimor pelos momentos em família e com os meus amigos (que adoro igualmente), a verdade é que aprecio profundamente aqueles momentos só meus. Seja a fazer o que for - ou mesmo a não fazer nada. Gosto de passar tempo só comigo e faz-me bem.
À vista desta pandemia "estar-com-gente-só-para-não-estar-sozinho", que ameaça tornar-se mundial, aconselho a todos que descubram a felicidade de passar some quality time com vocês próprios. Recomenda-se.
Thing Seven: Dogs
Dogs are my favorite role models. I want to work like a dog, doing what I was born to do with joy and purpose. I want to play like a dog, with total, jolly abandon. I want to love like a dog, with unabashed devotion and complete lack of concern about what people do for a living, how much money they have, or how much they weigh. The fact that we still live with dogs, even when we don't have to herd or hunt our dinner, gives me hope for humans and canines alike.
A partir de um comentário da K. no último post, apercebi-me de que, para mim, existem duas realidades bastante distintas: o ser-se cobarde e, por outro lado, o ser-se apenas extremamente inseguro. São coisas muito diferentes, mas, não-raras vezes, interpretadas por aqueles que estão de fora como exactamente a mesma coisa.
Um cobarde, para mim, não é alguém que foge dos seus medos - isso todos nós fazemos enquanto seres humanos. Ao sermos humanos temos inteligência (ou assim se espera) e, logicamente, o melhor para nós próprios, regra geral, não implica mergulharmos de cabeça em algo que receamos profundamente.
A meu ver, um cobarde é alguém que foge dos seus medos mesmo quando isso implica perder algo de verdadeiramente importante. Nessa categoria existe uma vasta panóplia de opções: uma pessoa, um ideal, um sonho. Cobarde é quem não luta por aquilo em que acredita, por aqueles em quem acredita.
Uma pessoa insegura não é necessariamente um cobarde, do mesmo modo que acredito que nem todos os cobardes são pessoas inseguras. Muitas vezes são meramente fracas. E uma pessoa pode ser insegura e não ser fraca.
As inseguranças nascem das mais variadas formas, pelos mais diversos motivos; nem todos têm a sorte de ter uma existência perfeita que proporcione uma segurança pessoal inesgotável. Essas inseguranças podem - e usualmente procuram precisamente - tomar conta de nós. Um cobarde deixar-se-á afundar nelas; mas é preciso muita coragem para enfrentá-las nos momentos certos e crescer a partir delas - que é precisamente o que o Ron faz.
É uma metáfora e nada mais do que isso; mas identifico-me com o Ron nesse aspecto. Não me considero cobarde - se bem que outros possam clamar que o sou, chi sa com razão; mas sei, de certeza certa, que sou muito insegura. De qualquer modo, cresci com essas inseguranças, lutando contra elas, procurando desvanecê-las, senão mesmo extingui-las. Com mais ou menos sucesso, é esse o caminho que tenho trilhado e foi por aí que cresci. Cobarde? Não. Insegura? Sem dúvida, mas com a coragem de remar contra a maré.
Numa das minhas conversas telefónicas do costume com a K., pergunta-me ela (aparentemente do nada): "Ele agora é o Voldemort?"
"O quê?", pergunto eu deste lado da linha, sem perceber de imediato onde ela queria chegar.
"Não podes dizer o nome dele?*", aqui estava a conclusão da K. - acertada, aliás (por esta altura já devia saber que a K. nunca diz este género de coisas sem motivo - por muito loucas e completamente inesperadas que sejam).
"É, é isso", concordo eu, sentindo-me ligeiramente envergonhada. "Aquele Cujo Nome Não Deve Ser Pronunciado. Ultimamente voltou a ser um bocado isso, sim. E quem quiser, que seja o Harry ou mesmo a Hermione e diga o nome dele; eu hei-de continuar a ser o Ron".
O Dumbledore diria que o medo do nome serve apenas para aumentar o medo da coisa em si; mas isto não se trata tanto de medo como da minha recente alergia ao masoquismo. E, para além disso, vejamos os factos: o Dumbledore dizia o nome do Quem-Nós-Sabemos e, bem, morreu; o Harry também o dizia e quase acabou a ir pelo mesmo caminho quando o nome virou tabu. Que isto sirva de lição, especialmente a quem, por mero acaso, acaba o dia a percorrer os tortuosos caminhos down Memory Lane.
*(E é por estas e por outras tiradas da K. que eu sei que a nossa amizade reside também - e algumas vezes, muito especialmente - nos silêncios e nas palavras que ficam ditas por dizer).
[ Just because you've got the emotional range of a teaspoon doesn't mean we all have. ]
Por saber que vai ficar tudo bem - que eu, eventualmente, estarei bem e bem melhor que nos últimos tempos - enchi-me de vontade e vim aqui a esta caixinha de memórias, sem receio de lhe tirar as teias de aranha e de lhe limpar o pó para recordar fotografias antigas. Apenas porque memórias não são mais que memórias, boas ou más, que ganham uma nova vida conforme as diferentes luzes que nos vão iluminando.
Dizem que recordar é viver; eu assino por baixo mas acrescento que, não raras vezes, o melhor mesmo é parar de recordar e, muito simplesmente, começar a viver.