Música: "Cavaleiro Andante", Rui Veloso
A Lua desta noite parece-se com a primeira letra do teu nome. Tem a forma perfeita para eu escrever o teu nome em estrelas e suspiros. Eu por ti faria isso e muito mais, mesmo que depois viesse o vento quente e forte duma daquelas noites atípicas de Verão, levando consigo todos os meus sonhos pintados de esperanças derretidas.
Na verdade, a Lua desta noite não se parece com nada, muito menos com a primeira letra do teu nome. É como tu és – complicado demais para te deixares levar por poesias e romances de meia-tigela. Bem que eu gostava que não fosse assim.
Se fosses meu, de facto meu, sob a Lua desta noite havias de me pegar na mão, entrelaçar os teus dedos nos meus, docemente, para nunca mais me largares, por muito que magoássemos. Sem nunca me largares, a tua outra mão deslizaria no meu rosto, afastando o meu cabelo, acariciando-me de maneiras que só tu sabes. Os teus olhos decerto me assegurariam de não haver nada mais no Mundo senão aquela Lua, aquele momento, aquele aperto no peito. Descobriria então que, sem ti, nada mais há no mundo para mim. Tudo isso e muito mais os teus olhos me diriam. As promessas tácitas que os teus olhos me faziam seriam seladas por teus lábios de encontro aos meus, tão sedentos de ti. Então, seria certo que nada mais há para mim neste mundo senão tu. Para tal pensamento não me aterrorizar de morte, sob a Lua desta noite abraçavas-me como nunca ninguém abraçou pessoa alguma em vida que fosse, fazendo-me sentir protegida, segura… em perfeita harmonia com todo o meu mundo – tu. Só então, sob a Lua desta noite, sendo una contigo, descobriria eu o meu lugar neste Mundo.
Sem te ter, sem seres meu, sob a Lua desta noite sinto-me apenas algo perdida, algo à deriva. À procura de algo que nem eu sei o que será. Tentando incessantemente preencher o que sei que apenas tu completarias.
A Lua desta noite não se parece nada com a primeira letra do teu nome. Não se parece com nada. Pensa como seria perfeito escrever o teu nome, dançante de música, com a Lua e mais algumas estrelas. Idilicamente, seria a perfeição. Mas, caso ainda não te tenhas apercebido, a perfeição não existe.
(Então porque te vejo eu tão perfeito?)
Odeio a Lua desta noite por me fazer lembrar-me de ti. Faz-me querer-te comigo. Num ataque de loucura momentânea tento alcançar a Lua desta noite, pegar em meia dúzia de estrelas e juntar-lhes uns quantos suspiros de sonhos pintados de esperanças ainda não derretidas. Reencarnando Da Vinci, Botticelli, Van Gogh ou Picasso, desenho o melhor que posso o teu nome, sem me preocupar com correntes artísticas. O resultado será sempre uma obra-prima como poucas, pois pouco neste mundo de Luas fugidias é feito com paixão, com sadia obsessão, com Amor, enfim.
O teu nome, que ninguém me impediria de escrever, brilharia sobre toda a parte, num conjunto de estrelas e cores nunca vistas, junto à Lua desta noite. Será que tu verias o meu esforço para te chamar, para te ter junto a mim, para sermos finalmente um só? Vendo o teu nome escrito em sentimentos no céu, lembrar-te-ias de mim, pensarias que só eu o faria por ti? Ou, como julgo mais certo, pensarias, deambulando sozinho pela rua, que alguém que partilha esse teu nome delicioso estaria nesse momento muito feliz – sentindo no teu coração que tal Fado nunca te caberia a ti?
A Lua desta noite, a bem dizer, não se parece com nada, muito menos com a primeira letra do teu nome. Mas não é por isso que não te pode caber tal Fado. Se outros vivem tais paixões e histórias de amor enjoativamente doces, porque não tu, porque não eu, porque não nós?
Também eu nunca acreditaria que tal Fado me pudesse calhar. E continuo sem acreditar.
Mas sei que basta um segundo para tudo no mundo se alterar. Do mesmo modo, basta um segundo para o nosso Fado se alterar. E é por esse segundo que eu espero e anseio, pelo qual continuarei a esperar e ansiar até que, exausto, ele chegue por fim.
Num segundo vi o teu rosto e não a Lua desta noite. E bastou um segundo da Lua desta noite, que se parece com a primeira letra do teu nome, para algo se alterar dentro de mim.
[Texto Verão 2005. Foto encontrada na
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