Lorelai

Música: "Vermilion, Pt. 2", Slipknot

Descobri um grande problema – senão o meu maior problema ou mesmo o de toda a humanidade. Gostamos de alguém, amamos essa pessoa acima de qualquer outra. E depois ela magoa-nos, faz-nos sentir um mar de gelo, uma lança de fogo. Entristece-nos.

Nessa altura, que é que se faz…?

Não há ninguém para apanhar as peças e arranjá-las de novo. Não há o sorriso reconfortante, o abraço apertado, o beijo carinhoso. Não há ninguém. Não tens quem te pegue ao colo, quem te dê a mão e te faça ser forte de novo.

E sentes-te pequenina. E só queres ter isso outra vez – ainda que te questiones se alguma vez o tiveste de facto. Mas no fundo sabes que sim. É um bem perdido. Ele é o Jardim de Éden, tudo o que precisas, a única coisa que precisas. Tudo o que pensas todo o dia, aquele sorriso, o perfume dele. E embora não o sintas há tanto tempo, continua sempre à tua volta, naquele momento é como se ele próprio estivesse ali.

Mas não está. Então entras em repeat mode, sonhas que o real é ilusão e que a ilusão é real. E acreditas nisso com todas as tuas forças porque não há mais nada a fazer. Não sabes o que fazer quando ele te deixa triste.

Mesmo que nada mais reste: ele não está contigo.
Lorelai

Música: "Away From The Sun", 3 Doors Down

Os últimos raios intensos do pôr-do-sol incomodam-me os olhos. Observando o horizonte, aqui sentada, tudo me parece dolorosamente pacífico. Uma paz estranha e há muito esquecida e não sentida inunda-me o coração vazio. Tudo é vazio. Incerto. Misterioso. Incompreensível. Doloroso.
Brinco com a areia nos meus dedos perdidos, à deriva como aquele velho barco; aquele barco sem capitão, feito já apenas de memórias, ansiando embater contra as severas rochas, para tudo acabar de vez.
O Sol vai-se pondo, a minha vista vai acalmando. Como tudo, volta à normalidade. Assim como eu voltarei à normalidade, apesar da âncora que, sinto-o ainda, tu lançaste no meu peito; âncora essa que, pouco a pouco, com muito e muito sofrimento, se vai içar, transformando-se então numa vela que me permita navegar, mais segura, para longe de mares turbulentos e incertos, como tu.
Com o céu azul me envolvendo, o calor fazendo-se sentir no meu rosto, apercebo-me de toda a imensidão que me rodeia. O mundo que eu ignorei, por ti. A vida que a tua presença, a tua lembrança me não deixou viver. A imensidão que eu, sozinha como sempre foi e, arrisco-me a dizer e a sentir, sempre será, tenho pavor de enfrentar. A grandeza de tudo aterroriza-me e, sem ti, ou apenas sem a ilusão que eras tu, torna-se ainda mais difícil enfrentá-la. O vazio preenche-me; preenche-me em redor, nesta praia agora deserta, e preenche-me o interior. Este vazio por ti deixado, ainda não sei como preenchê-lo; mas, tal como tu conseguiste, hei-de encontrar algo que me realize, que me faça feliz. Feliz, mas feliz de facto; feliz como tu nunca me fizeste realmente.
Custa enfrentar tudo isto, como custa aos meus olhos contemplar o Sol. Sem protecção, desamparada, sozinha custa enfrentar o que magoa. Mas quando não há outro modo, temos de saltar os obstáculos e continuar a viver. E, apesar de os murmúrios e sussurros do mar me recordarem um nome, agora apenas uma recordação rasgada pelo destino, sinto-me calma, como o oceano diante de mim. Não mais os turbilhões de emoções, as dúvidas que corroem, as ilusões sem sentimento. Apenas… nada. O nada que me envolve, o nada que me preenche. O nada que é noite, com a Lua alta no céu, agora, ali… E o tudo que é dia, com o Sol brilhante, como será amanhã, ao amanhecer. Como em tudo o mais, há sempre uma segunda hipótese, uma esperança, algo pelo qual viver.
Mas com pesar me vejo na escuridão; não pelo Sol-posto, não pelo anoitecer. Antes na penumbra das réstias de ilusão que ainda raspam o meu exausto coração. Ilusão que me cegou, me matou; ilusão que me magoa, vendo-a tal como ela é: ilusão cruel e castradora. E para voar saio desta ilusão, voo para lá desta praia distante tão desejada, e tão ingenuamente imaginada.
Lorelai

Música: "Follow Through", Gavin DeGraw

E acaba por não ser uma inversão tão absoluta de todo este processo. Talvez até seja o fim deste capítulo. Não porque quero, mas porque preciso. Já não é possível alimentar mais um sonho que nunca chegará em tempo algum.

Não procuro enganar-me mais. Já por muitas vezes disse que te esqueci, nunca conseguido que isso se mantivesse verdade por muito tempo. Portanto, não arrisco fazer prognósticos antes do jogo. Deixa a bola correr; como disse alguém, estou só a "jogar com um pé, não sei o que se passa com o outro"...

Não arrisco dizer que não voltarei a pensar em ti. Se não o fizesse, não estava neste momento a escrever-te, sem ser para ti. A verdade é que é um hábito, falar-te sem sequer te falar. Talvez seja essa a parte mais complicada do processo.

Sim, era ilusão. Mas só nos apercebemos de um bem perdido - mesmo que um bem ilusório - quando já ele se escapou das nossas mãos, quando já não tem retorno possível. Contudo, é também nesse momento que se torna mais clara a essência desse bem. Neste caso, a ilusão. Foste uma ilusão, és e possivelmente sempre o serás. E que bela ilusão.

Não me atrevo a dizer que te esqueci. Talvez porque não me parece que alguma vez te esqueça de facto. Não te esqueci. Mas chegou a altura de te deixar ir.
Lorelai


Música: "Cavaleiro Andante", Rui Veloso

A Lua desta noite parece-se com a primeira letra do teu nome. Tem a forma perfeita para eu escrever o teu nome em estrelas e suspiros. Eu por ti faria isso e muito mais, mesmo que depois viesse o vento quente e forte duma daquelas noites atípicas de Verão, levando consigo todos os meus sonhos pintados de esperanças derretidas.
Na verdade, a Lua desta noite não se parece com nada, muito menos com a primeira letra do teu nome. É como tu és – complicado demais para te deixares levar por poesias e romances de meia-tigela. Bem que eu gostava que não fosse assim.
Se fosses meu, de facto meu, sob a Lua desta noite havias de me pegar na mão, entrelaçar os teus dedos nos meus, docemente, para nunca mais me largares, por muito que magoássemos. Sem nunca me largares, a tua outra mão deslizaria no meu rosto, afastando o meu cabelo, acariciando-me de maneiras que só tu sabes. Os teus olhos decerto me assegurariam de não haver nada mais no Mundo senão aquela Lua, aquele momento, aquele aperto no peito. Descobriria então que, sem ti, nada mais há no mundo para mim. Tudo isso e muito mais os teus olhos me diriam. As promessas tácitas que os teus olhos me faziam seriam seladas por teus lábios de encontro aos meus, tão sedentos de ti. Então, seria certo que nada mais há para mim neste mundo senão tu. Para tal pensamento não me aterrorizar de morte, sob a Lua desta noite abraçavas-me como nunca ninguém abraçou pessoa alguma em vida que fosse, fazendo-me sentir protegida, segura… em perfeita harmonia com todo o meu mundo – tu. Só então, sob a Lua desta noite, sendo una contigo, descobriria eu o meu lugar neste Mundo.
Sem te ter, sem seres meu, sob a Lua desta noite sinto-me apenas algo perdida, algo à deriva. À procura de algo que nem eu sei o que será. Tentando incessantemente preencher o que sei que apenas tu completarias.
A Lua desta noite não se parece nada com a primeira letra do teu nome. Não se parece com nada. Pensa como seria perfeito escrever o teu nome, dançante de música, com a Lua e mais algumas estrelas. Idilicamente, seria a perfeição. Mas, caso ainda não te tenhas apercebido, a perfeição não existe.
(Então porque te vejo eu tão perfeito?)
Odeio a Lua desta noite por me fazer lembrar-me de ti. Faz-me querer-te comigo. Num ataque de loucura momentânea tento alcançar a Lua desta noite, pegar em meia dúzia de estrelas e juntar-lhes uns quantos suspiros de sonhos pintados de esperanças ainda não derretidas. Reencarnando Da Vinci, Botticelli, Van Gogh ou Picasso, desenho o melhor que posso o teu nome, sem me preocupar com correntes artísticas. O resultado será sempre uma obra-prima como poucas, pois pouco neste mundo de Luas fugidias é feito com paixão, com sadia obsessão, com Amor, enfim.
O teu nome, que ninguém me impediria de escrever, brilharia sobre toda a parte, num conjunto de estrelas e cores nunca vistas, junto à Lua desta noite. Será que tu verias o meu esforço para te chamar, para te ter junto a mim, para sermos finalmente um só? Vendo o teu nome escrito em sentimentos no céu, lembrar-te-ias de mim, pensarias que só eu o faria por ti? Ou, como julgo mais certo, pensarias, deambulando sozinho pela rua, que alguém que partilha esse teu nome delicioso estaria nesse momento muito feliz – sentindo no teu coração que tal Fado nunca te caberia a ti?
A Lua desta noite, a bem dizer, não se parece com nada, muito menos com a primeira letra do teu nome. Mas não é por isso que não te pode caber tal Fado. Se outros vivem tais paixões e histórias de amor enjoativamente doces, porque não tu, porque não eu, porque não nós?
Também eu nunca acreditaria que tal Fado me pudesse calhar. E continuo sem acreditar.
Mas sei que basta um segundo para tudo no mundo se alterar. Do mesmo modo, basta um segundo para o nosso Fado se alterar. E é por esse segundo que eu espero e anseio, pelo qual continuarei a esperar e ansiar até que, exausto, ele chegue por fim.
Num segundo vi o teu rosto e não a Lua desta noite. E bastou um segundo da Lua desta noite, que se parece com a primeira letra do teu nome, para algo se alterar dentro de mim.


[Texto Verão 2005. Foto encontrada na web.]
Lorelai

Música: "Through Glass", Stone Sour

A vida é complicada porque nós assim a fazemos. Com medos fúteis e receios ainda mais inúteis, facilmente perdemos tudo o que nos fazia realmente feliz. Depois há o vazio. Aquele imenso, gelado e detestável vazio.
O vazio que ficou quando tu foste sem ires. E é provável que doa ainda mais sendo dessa e não de outra forma. Podias simplesmente partir sem deixar rasto – e começo a pensar se isso não teria sido terrivelmente agradável, ao invés desta situação algo ridícula em que me sinto… contigo ou sem ti, não dá para entender.
Porém, podia ser fácil. Tão fácil. Fácil como nunca foi, porque nunca o deixámos ser. Fácil como olhar nos teus olhos e ver tudo e nada, ver o nada nesse tudo, mas nada que sendo nada tudo era.
Estupidez tem sido uma palavra que me tem vindo diversas vezes à mente. E era algo que gostaria de ter evitado – nunca foi minha intenção que, quando pensasse em ti passado algum tempo, fosse algo assim que me apetecesse dizer.
Isto acaba por ser um pouco uma espécie de tentativa (muito provavelmente falhada…) de inverter o processo, digamos. Não quero pensar em ti de forma amarga, um dia mais tarde, quando sei que foste algo tão doce em certa altura.
Teria sido fácil se não mentíssemos. Mentimo-nos a nós próprios. Eu menti-me de forma tão absoluta que a certo momento acreditei mesmo que poderia ser feliz. Contigo.
Pateta…
Lorelai

Música: "Chasing Cars", Snow Patrol

Só me faz mesmo muita confusão nunca te ter comigo, não saber como estás, por onde andas, com quem passas os teus dias.
Sinto que mudei nos últimos tempos - e tenho medo que tu também mudes. Para mim, sempre foste perfeito em toda a tua imperfeição. E não quero que essa tua maneira de ser tão genuína seja, de algum modo, corrompida por tretas inúteis e fúteis. És mais que isso - sê mais que isso, por favor.
Não estar contigo ainda consigo suportar. Pensar que tu te tornaste em mais um andróide que anda por aí, que te deixaste levar por parvoíces estúpidas (vê bem o que isto é para mim) é que se torna completamente sufocante. Por favor, mantém-te igual a ti mesmo. Perfeito na tua imperfeição.

Não acredito mais em nós. Mas parece-me que estarei sempre à espera de ti. Do teu sorriso, do teu olhar. Da tua verdade num mundo de mentira. Porque quando olho à volta e não te vejo... é como se tudo fosse oco de significado.

Mais do que querer estar contigo, só mesmo desejar que te mantenhas imperfeito como és. Mais perfeito do que tudo mais.
Lorelai

Música: "If You Give Up", Hands On Approach

Não demorei muito a perceber que tudo o que escrevi aqui – tal como quase tudo que tenho escrito no último ano e meio – é sobre ti. E começa a passar até os limites do ilógico e do irracional eu pensar em ti a cada minuto do dia – quando tu não gastas um milésimo de segundo da tua existência a pensar em mim.
Decidi que precisava de um processo de desintoxicação. Por motivos que me ultrapassam, nem vou poder falar contigo por uns dias – e isso nem sequer te pareceu preocupar muito… ou de todo. Daí que seja tudo bem mais fácil, ainda que letargicamente difícil. Quero tirar-te de mim, sabendo que nunca em mim estiveste; pareces não querer sair, embora não faças a menor ideia disso.
Parece-me que durante todo este tempo tentei cegar-me – porque precisava de estar cega. Naquelas alturas mais complicadas, agarrava-me ao menor carinho possível que tu, mesmo sem te aperceberes, acabavas por me dar; quando me sentia a odiar o mundo, a detestar todo e qualquer ser humano, quando amaldiçoava o raio da cidade em que vivemos… tu aparecias e negavas todo esse rancor, cortando-o pela raiz – sem disso te aperceberes – simplesmente porque eras tu, sem artifícios nem artimanhas, simplesmente…
Tu. Sempre foste simplesmente tu. Nunca fizeste nada para eu sentir o que sinto por ti – nunca pediste esse tipo de atenção, nunca o procuraste. Não sei porque me apaixonei por ti – nem sei se esse é o termo correcto. Acho que sempre soube que tu nunca sentirias nada igual por mim – mas alimentei essa esperança, nem sei com o quê, apenas porque precisava. Eras o porto seguro, o meu refúgio, a minha esperança. A minha segurança.
Já disse milhares de vezes: posso estar redondamente enganada, mas contigo consegui sentir que tinha encontrado «o tal». Quantas vezes pode uma pessoa sentir isto? Acontece sempre que nos apaixonamos? Ou só uma vez e essa pessoa é aquela com quem deveríamos estar o resto da nossa vida?
Não sei. Nem sei sequer se voltarei a estar contigo ou se alguma vez mais saberei de ti. Não nego que me apetece acreditar que um dia, indo na rua, acabo por esbarrar contigo; ou que num acto de maluqueira até poderias aparecer à minha porta ou simplesmente telefonar-me. Sim: dentro de toda a tua complexidade que, até onde deixaste, eu conheci muito bem… és simples. E talvez seja isso que me fascina em ti. Contigo era tudo tão simples, tão natural. E sinto saudades disso, de ti. Do teu sorriso, do teu cheiro. Mas cheguei à estação terminal da doce ignorância em que eu própria entrei: continuar a sonhar contigo a cada noite, manter-te na minha vida quando sei – ou julgo saber – que tu nem sequer fazes muita questão de estar nela… parece-me inútil e uma fonte absolutamente dispensável de tormento.
É uma fase de desintoxicação. No que me diz respeito, quero-te longe de mim - sem sequer tu te aperceberes. Não porque o deseje, mas porque preciso disso. Quero lembrar-me de ti como algo quase perfeito – não como uma parvoíce demasiado longa sem qualquer tipo de razão ou explicação.
Nunca consegui afastar-me por completo de ti. Talvez seja agora, de vez... sem disso me aperceber.
Lorelai

Música: "Another Perfect Day", American Hi-Fi

E até sabe bem voltar a ter que vestir uma camisola mais quente para enganar aquela brisa gelada do Outono. Mas não sabe assim tão bem ir de manhã, todos os dias, para um sítio onde sei que tu não vais estar. Saber que não te vou ver, que não vou estar contigo.
Estar no meio de uma data de gente que não me diz grande coisa. E pensar que queria era estar contigo. São coisas do passado, mas está difícil deixá-las ir. Sempre tive este defeito, esta falha descomunal de me apegar ao Passado. E assim torna-se muito mais difícil conseguir estar feliz neste momento exacto.
Pensei que ia gostar desta fase em que estou – até pensei que iria gostar de estar longe de ti. Enganei-me. E agora as saudades voltam, com um sabor bem mais amargo, por saber que fui completamente parva durante tanto tempo – e que por isso, e só isso, inevitavelmente, vou perder-te, em definitivo, mais cedo ou mais tarde. Pode ser de outra maneira?
Queria dizer-te “não vás, fica”. Mas se te dissesse isso, sei que me assustava. Assustava-me a mim, assustava-te a ti. Não era a primeira vez que nos assustávamos com o que sentimos. Assim, digo-te só isto… Até sabe bem.

[Foto encontrada na web.]
Lorelai

Música: "Other Side Of The World", KT Tunstall

Ela olhou para ele, ao fundo da sala. Estava, como sempre, enfiado em si mesmo, distanciado de tudo, distanciado de todos. Tocava uma valsa, algures, aparentemente – talvez saída do piano –, mas para ela assemelhava-se a uma sinfonia de silêncios agudos. Palavras não ditas, actos não explicados, verdades escondidas, sentimentos disfarçados.
Não se aproximou, não foi ter com ele. Por muito que o quisesse. E se ela o queria… Temia-o mais do que qualquer outra pessoa, do que qualquer outra coisa. Contudo, também gostava mais dele do que de qualquer outra pessoa, do que de qualquer outra coisa. Mas era difícil. Demasiado difícil. Não podia ser para ela.
Doía-lhe vê-lo ver a vida passar-lhe ao lado algo velozmente, sem nunca ter reacção. Ela tentara mostrar-lhe algo mais, tentara chegar a ele, tentara dar-lhe um pouco de si, tentando receber um pouco dele. Não era para ela.
Manteve-se distante, vendo-o no outro lado do mundo, sem mexer um músculo, sem articular uma palavra, estranha a ela própria, ela apenas um reflexo dele, do que ele lhe ensinara, daquela arte do silêncio que só ele – e tão bem – manejava.
Ela aprendera a recusar-se, a anular-se. Pelo menos, em alguns aspectos, em algumas vertentes de si. Compensava-as de outro modo, de outra maneira. Não o podia impedir: fugia-se, apenas porque também ele lhe fugia. Ela não o conseguira jamais ter, nunca tal viria a acontecer. Era altura de esquecer, de deixar ir. De o deixar ir.
Sentiu-se sufocar, possivelmente devido ao calor, à intensidade das luzes que incidiam neles, naquela sala onde já haviam dançado, sempre distantes. Ela precisava sair, respirar livremente. Ela precisava de estar só.
Saiu para a noite gelada, arrepiando-se pela frieza que a envolvia. Não se pode impedir de fazer uma comparação entre aquele gelar e ele… e o que sentia por ele. Ela estava absolutamente desconfortável. Odiava frio, o vento fustigava-lhe desagradavelmente o rosto. Não via nada senão as estrelas no céu, a Lua Nova escondendo-se por entre ténues nuvens indecisas. Ali, naquele momento, ela era em tudo oposta àquela rapariga que sabia ser. Porém, sentiu-se mais ela do que alguma vez se sentira. Estranha, deslocada. O que ela era com ele. Apenas estranha e deslocada. Mas sentia-se mais «gente» do se sentira em toda a sua vida quando estava com ele.
Naquele momento de glacial lucidez, ela olhou para si e percebeu o que queria. Que o queria. Do mesmo modo, sabia que ele não o sabia. Sabia ainda que ele não a queria. Ou pensava saber. Não, era certo: ele não a queria. Alguma vez o ouvira dizer tal? Também era certo que não. Mas muita coisa pode ser dita sem palavras. E dessa maneira, ela dissera-lhe tudo. Possivelmente, ele não compreendera nada. Ter-lhe-ia dito alguma coisa? Isso já ela não sabia…
Olhou para o céu, pensando nele. Já muito ela conversara com a Lua sobre ele. Nunca nenhuma resposta surgira. E ela procurara incessantemente essa resposta. Talvez já a tivesse, talvez fosse mera especulação. Uma estrela cadente passou. Ela não formulou qualquer desejo, não racionalizou qualquer anseio. Porém, o seu íntimo não pode senão esperançosamente desejar que aquela ansiedade terminasse e o seu sonho um dia se viesse a concretizar. Um dia.
Lorelai

Música: "Você", Marina Elali

Porque tu continuas a ser tu e nunca hás-de deixar de ser tu, em mais de mil sentidos.

Há pouco lembrei-me de uma vez que demos as mãos (quem sabe se a única) e ficámos ali de dedos entrelaçados no meio de uma data de pessoas. E soube-me bem.

Estava naquele momento a pensar que perdera todo o futuro que planeara – e que te perderia, a ti. E em vez de apoiar-me em quem conhecia desde pequena, o meu reflexo foi ir ter contigo de imediato. Talvez nem o saibas, mas se continuei forte foi, em grande parte, por ti apenas – e aquela não foi a única vez em que isso aconteceu.

Quando agora me falhas – quando agora não tenho a tua mão na minha, ainda que por breves segundos – sinto-me quebrar como uma criança pequena.

E é incrível como me custa admitir-te, a ti, que me fazes falta… a mim.

Porque a Lua mudou, porque a vida nos levou para longe de nós, não acredito mais que te venha a ter. E é por isso que me sinto sozinha no meio de uma multidão – embora agora já sem ti.

E sim: fazes-me falta.



(Imagem: "Dance In Town", Pierre-Auguste Renoir)
Lorelai

Música: "Pet", A Perfect Circle

Lembro-me claramente como se fosse ontem e não há um ano atrás. Sentia outra vez uma felicidade tremenda, como no ano anterior, ainda que por motivos diametralmente opostos. Ou talvez idênticos. Mas nessa altura, já lá vão dois anos, eu nem te conhecia. E esse facto parece retirar toda a importância a tudo o resto.

As pessoas que, nesses dias agora irrealistamente distantes, me fizeram sentir aquela perfeição de estado de espírito, estão neste momento irremediavelmente desligadas de mim, de forma irreversivelmente completa.

Já nem significa nada. É comparável a receber um brinquedo novo quando se é criança. Se em adulto isso acontecer, não se passa nada. A reacção é nula. Seria o que aconteceria hoje se esses fantasmas do passado reentrassem na minha vida.

Porém, contigo é diferente. Tudo em ti sempre foi diferente. Cada coisa com algo de ti torna-se inevitavelmente especial.Um ano depois, tu ainda te manténs em mim. No meu dia-a-dia, de modos perfeitamente alterados. E mudamos no preciso momento em que tal me parece inútil.

Não queria que assim fosse, mas adoro que assim seja. Simplesmente porque, embora seja ilógica e incoerente, esta situação permite que não me fujas, como eu pensava que aconteceria.

A verdade é que manténs a capacidade de me fazer feliz como me fazias há um ano atrás. Mas também consegues arrasar-me o coração. E isso dói demais para poder continuar com toda esta incoerência sentimental.

Ou será que não são os nossos sentimentos que são incoerentes... mas as nossas acções?

Simplesmente... Não dá para esquecer o teu sorriso, por mais tempo que passe.

Hoje não estou feliz. E não te tenho comigo. E termino mais um dia sem conseguir pensar se não em ti. E essa felicidade que me escapa neste momento, acredito que a tens tu guardada.

Gostava de também guardar a tua. E mais ainda, amava amar-te e dar-ta...
Lorelai

Música: "'Cause To Love You", Fingertips

Às vezes penso porque é que gosto tanto de ti. Paro a pensar, a procurar o sentido de gostar de ti.

Não é de mim que parte a dúvida; nem sequer é de ti. Simplesmente, parece que ninguém compreende. E toda a gente questiona.

É fácil analisar e pôr em dúvida quando se está de fora. Não se sente o que nós sentimos, não se faz o que nós fazemos, não se diz o que nós dizemos, não se olha como nós olhamos, não se sorri como nós sorrimos. As questões nascem fáceis.

À minha volta, duvido que haja uma única pessoa que compreenda, verdadeiramente, porque é que há tanto tempo tu me fascinas. A sério: não creio que alguém perceba o que sinto. E muito menos acho que alguém deposite um cêntimo que seja na realização deste eterno sonho.

A verdade é que, às tantas, até eu me questiono porque é que gosto tanto de ti, porque é que só penso em ti, porque é que basta um sorriso teu para eu ter o melhor dia da minha vida. Não que eu própria coloque a questão: mas todos em meu redor me interrogam.

Tudo sabe questionar. E aí, eu própria me faço a questão: porque é que gosto tanto de ti?

Não sei arranjar resposta que agrade a essas gentes: mas encontro respostas que me bastam a mim.

Porque adoro o modo como me sorris.

Porque me perco no teu olhar envergonhado.

Porque me fazes rir, mesmo que tenha tido o pior dia de sempre.

Porque a tua timidez delicia-me.

Porque o teu sorriso é puro, sincero.

Porque os teus beijos são o mel mais doce que me podem oferecer.

Porque te adoro.

Porque te conheço. E, talvez, se aquelas vozes todas te conhecessem… se calassem.

Adoro-te, apenas porque… te conheço. Conheço o teu sorriso, conheço o teu toque, conheço os teus beijos, conheço o teu humor, conheço a tua timidez. E com todos os teus defeitos – que, alguns, conheço-os bem… –, adoro-te.
Lorelai
Música: "To Be Loved", Curtis Stigers

Que mais será tantas vezes uma caixa de sapatos senão um baú improvisado onde guardamos pedaços de nós?

Acaba por ser esta ideia pateta que dá início a este novo espaço inútil na World Wide Web. Apenas um sítio onde posso pôr tudo, desde um pacote de açúcar até um poema perdido na memória.

Uma caixa, versão byte, na tentativa de nunca esquecer certos e determinados fragmentos de vida...



(Mas eu vou mesmo divulgar o endereço disto...?)