Lorelai
Música: "Little Wonders", Rob Thomas

Sou uma escritora. Posso nunca vir a ter nada publicado, mas eu, intrinsecamente, enquanto pessoa, sou uma escritora. Há características nossas que nos definem de uma ponta à outra; esta é uma das minhas.

Acontece-me uma série de vezes acabar por não escrever no papel determinada ideia que tive, simplesmente porque o momento já passou. Se for tentar escrever algo que já passou - coisa que deixei de fazer, por perceber que é ridiculamente inútil - cada gota de tinta ou partícula de carvão vai ser forçada. Bom, para o caso, também contam as batidas no teclado, claro.

De qualquer modo, o que quero dizer é que isso também me acontece enquanto pessoa «extra-escrita», na minha relação com os outros, no meu dia-a-dia. Às vezes pode ser mau, mas até considero que tem mais aspectos positivos do que negativos; principalmente porque, até certo ponto, eu acredito que o que tem que acontecer, acontece - e o resto é paisagem, de forma mais ou menos absoluta.

Concretamente, isto espelha-se nas mais variadas coisas, desde adiar indefinidamente as arrumações no meu quarto "just because I'm not in the mood" até deixar passar completamente ao lado ter determinadas conversas com x ou y sobre a ou b. Se vai ser forçado, para quê insistir quando já se perdeu a oportunidade?

Pode até não parecer, porque tendo a ser demasiado metódica e fazer planos para tudo e mais alguma coisa. Mas a verdade é que, inevitavelmente, eu vivo no momento. Posso ter aquelas tendências nostálgicas com o Passado, ou ser demasiado idealista para o Futuro, só que, no final do dia, o que eu faço é viver momento a momento e agir de acordo com isso. Se passou, passou; ou volta ou acabou. Equação simples, que não será infalível - mas, já dizia o outro, a excepção é que confirma a regra.


[ our lives are made in these small hours, these little wonders, these twists and turns of fate. ]
Lorelai
Música: "Only Wanna Be With You", Hootie and the Blowfish

Penso sinceramente que seja a melhor coisa do Mundo, pelo menos para mim: cães. Claro que podem argumentar que sejam gatos ou outro animal de estimação (ou chamarem-me de ridícula por pensar que o melhor da vida seja, lá está, animais). Mas paciência; para mim, são os cães. Não há muito que possa dizer ou argumentar, porque quem partilha deste sentimento sabe do que estou a falar - e quem não o partilha, nunca entenderá, por mais que se lhes explique. É algo que se sente, que nos muda e que nos pode moldar enquanto pessoa.

Desde que me lembro de ser gente que tenho cães à minha volta. Um pastor alemão, que me derrubava quando abanava a cauda de contente, era eu apenas uma bebé, ficando de seguida a olhar para mim com o ar de maior espanto e de mais completa incompreensão - porque está ela a chorar? Uma cadela rafeira, dog street, como dizíamos no gozo, o espécime canino mais inteligente que alguma vez vi; cheia de personalidade, óptima guarda, mais do que um cão, uma amiga. Viveu comigo desde que a fui buscar com poucas semanas à União Zoófila até à sua morte, ainda hoje e para sempre um dos dias mais tristes da minha vida. O seu companheiro de vida, que teve exactamente o mesmo percurso comigo, um perdigueiro francês do mais adorável de sempre, o que mais queria na vida era estar com pessoas, em especial connosco da casa - nunca, mas nunca, nem na sua velhice, deixou de nos receber com um entusiasmo inigualável. Actualmente, tenho um beagle, provavelmente o cão mais altivo que já tive, com autêntica atitude de gato, mas que, mesmo assim, se esmerou em secar-me as lágrimas na pior altura da minha vida.

Um cão é fiel, atencioso, despretensioso, meigo e companheiro como nem todos os humanos sabem ser. Um cão não guarda rancor, recebendo-nos sempre com uma alegria esfusiante mesmo que da última vez que nos viu se tenha passado algo de amargo. Um cão, um simples animal, consegue dar-nos um conforto e uma paz de alma praticamente inigualáveis, mesmo naqueles momentos que nos sentimos mais desprovidos de vontade e sentido. Um cão não é só um animal, é um amigo, um companheiro de vida - e assim deve sempre ser. Um cão, quando o tratamos como tal, torna-se família, cresce connosco e é sinónimo de tantos grandes momentos de uma vida inteira. E isto, para mim, é do melhor que a vida tem.



[ A dog has no use for fancy cars, big homes, or designer clothes. A water log stick will do just fine. A dog doesn't care if your rich or poor, clever or dull, smart or dumb. Give him your heart and he'll give you his. How many people can you say that about? How many people can make you feel rare and pure and special? How many people can make you feel extraordinary? ]
Lorelai
Música: "Through With You", Maroon 5
Não há pachorra para pedidos de atenção. A menos que sejam uma criança de tenra idade, por favor, por tudo o que é mais sagrado, poupem-me. É que não há mesmo pachorra.

Qual é a de gente feita, maior e vacinada, com dois palminhos de testa, de andar a cheiricar e a pedir satisfações do que faço ou deixo de fazer? Oh meus amigos, eu cá não dou satisfações a ninguém e faço a minha vida conforme bem quero e bem me apetece. A menos que me tenham dado à luz, calem a matraca e não me venham de pedir explicações de x ou y.

Haja pachorra, caramba.

Fazer planos, óptimo. Combinar uma conversa, fantástico. Agora, andar a pedir justificações de porque é que estou ou não aqui ou acolá, imaginar esquemas para descobrir o que não é para outros saberem ou chegar numa de "então porque é que não me dizes nada?"... isso não. A resposta a esta última pergunta...? Está ali mesmo, na primeira frase do primeiro parágrafo.

É que, sinceramente... haja mesmo pachorra.




[ limites da paciência. ]
Lorelai
Música: "Neighborhood", Vonda ShepardUm bocado por acidente, apanhei-me numa dessas redes sociais (verdadeiros «must-haves» para quem quer ter uma vida - ou assim o querem dar a entender), a ver o perfil de amigos que já sairam da minha vida há muitos, muitos Natais. Talvez até nem tenham passado assim tantos anos, mas a sensação que se acaba por ter é, inevitavelmente, de que passou uma eternidade desde aqueles momentos (alguns captados em fotografias hilariantes, com direito a sorrisos gigantescos e muita, muita parvoíce).

É aquele género de situação que, no fundo, qualquer pessoa pensa nunca vir a atravessar - pelo menos não durante os momentos que as tais fotos captaram. Mas acontece. Sem se saber muito bem porquê - ou sabendo-se até bem demais - pessoas que, aparentemente, nunca, jamais sairiam da nossa vida, tornam-se, afinal, completos desconhecidos. Por vezes até surge a situação estranha e desconfortável de encontrar uma dessas pessoas por mero acaso, no meio da rua, e, das duas, uma: ou se "faz-que-não-se-viu", ou trocam-se meia dúzia de palavras completamente desprovidas de qualquer sentimento ou real preocupação (sentimento? Preocupação? Nem é preciso ir tão longe).

Cordialidade, no lugar do que foi, em tempos idos, uma fotografia hilariante, com direito a sorrisos gigantescos e muita, muita parvoíce. Nem dá para perceber muito bem porquê; mudamos nós, muda a gente à nossa volta, muda tudo com o tempo. Sem dar para perceber muito bem porquê.

Continua a ser todo um conceito que me faz muita confusão, independentemende do número de vezes que já senti todo este processo na pele. E, às vezes, vividos anos e anos após a última vez que se trocou a última palavra com algumas pessoas, alguém se apanha, um bocado por acidente, a desejar que não tivessem sido as últimas.



[ time changes everything, one truth always stays the same: you're still you. ]
Lorelai
Música: "You're Beautiful", James Blunt Vinha eu outro dia no metro (num daqueles momentos em que, sem ninguém perceber muito bem porquê, nunca mais se sai da mesma estação), quando entrou uma rapariga mesmo para a minha frente. Tinha ar de caloira de Faculdade, mas não foi isso que me chamou a atenção (independentemente da minha recente nostalgia em relação à vida académica). Mal vi o rosto daquela miúda, soube que ela estava apaixonada. Até estranhei ela não estar com alguém ao lado - porque a expressão que ela trazia era a típica face de quem está com "aquela" pessoa.

Pois bem, não me enganei. Passados alguns segundos, entrou o namorado dela. Não há realmente palavras que captem com todo o rigor a expressão de pessoas apaixonadas, mas parece quase inato saber estas coisas, pelo menos a quem já cá anda há alguns anos. Há uma espécie de aura (passe o espiritualismo), como se uma qualquer bolha colocasse aquelas duas pessoas no seu pequeno mundo à parte. E é tão fácil ver isso nos outros; difícil é reconhecê-lo quando nos acontece a nós.

Andar de metro tem destas coisas engraçadas - como andar na rua, aliás (se nos dignarmos a abrir um bocadinho os olhos para os outros, ao invés de nos massacrarmos na nossa própria mente). O mais cómico de ver - e que me fez sorrir, reconheço - foi a forma absurdamente pateta em como eles discutiam se seria ou não mais rápido ir a pé até S. Sebastião em vez de esperar que o metro se decidisse a partir. Ela argumentava que sim, que pelo tempo que estavam à espera já estariam no Saldanha; ele respondia calmamente que não, que ela que não fosse tola. Só que, por mais insistente que um ou outro fosse, acabavam sempre com um sorriso idiota na cara e um beijo partilhado. Acaba por ser bonito, como dizia a minha avó, ver cenas destas num mundo que está cada vez mais cínico. Dá esperança.


[ i am a dreamer and when i wake you can't break my spirit - it's my dreams you take. ]
Lorelai
Música: "Mama Do", Pixie Lott

Quem me conhece - e, por vezes, até quem não me conhece lá grande coisa - sabe que um dos meus maiores vícios (e com muito orgulho) é o café. Mesmo naqueles dias mais melancólicos e diria até depressivos, basta o cheiro característico do café para me animar um bocado. Estranho, eu sei. Mas a verdade é que quando não me sinto "equilibrada" (seja por estar triste ou absolutamente eufórica), o meu primeiro desejo é «um café, por favor».
Ora, o que acaba por ser verdadeiramente maravilhoso (diria mesmo que é uma daquelas harmonizações cósmicas) é que o café, afinal, não faz mal à saúde - antes pelo contrário -, especialmente às mulheres (YAY!). Estudos que duram já há mais de 30 anos não encontram justificações para a má fama que o café tem.

(Calem-se vozes que me andam diariamente a perseguir: "Mas quantos cafés já bebeste? Isso faz-te mal!!")

Entre os benefícios daquela que eu considero ser a melhor bebida do mundo, encontra-se uma considerável protecção contra certo tipo de diabetes, contra a demência (haverá algo mais apropriado para mim?), contra doenças hepáticas e até contra a doença de Parkinson. Por outro lado, não há qualquer espécie de comprovativo que ligue o café ao cancro ou a riscos cardiovasculares.

(Shiu, shiu, shiu!)

Porém, o lado mais positivo do café, a meu ver, é o seu papel primordial nas relações interpessoais. Porquê? Ao que parece, segurar num café enquanto falamos com outra pessoa pode transmitir-nos uma sensação confortável de calor que se estende ao que sentimos pelo nosso interveniente; isto é, ao termos algo quente nas nossas mãos, ficamos com a impressão de que a outra pessoa é mais afável (talvez até bem mais do que realmente é). A isto chama-se "quebrar o gelo".

E, verdade seja dita... Que existe de melhor do que conversar enquanto se bebe um café? Mesmo que o café seja mera desculpa, não é um dos meios mais comuns para nos mantermos em contacto com amigos? Partilhar lágrimas e gargalhas com uma amiga, enquanto bebo um café, continua a ser uma das minhas coisas preferidas. E parece-me que há-de sê-lo por muito, muito tempo.



[ 'You will meet an annoying woman. Give her coffee, and she'll go away.' ]
Lorelai
Música: "Jai Ho", The Pussycat Dolls

"Filha, compra pizza também, senão não temos nada em casa para o almoço". Há dias em que adoro mesmo, mesmo a minha mãe. Hoje é um desses dias.

( E quem não entender, é porque ainda não conhece os poderes curativos da dita «comida de plástico». Eu conheço e já tive a minha dose hoje. Recomenda-se. )




[ i'm lovin' it! ]
Lorelai
Sapatos, hoje, só mesmo se forem as minhas pantufas. Estou absolutamente exausta devido a uma grande falta de sono ultimamente. Portanto, o que agora quero mesmo é a minha almofada e uns quantos cobertores para me aninhar. É que é impressão minha ou este fim-de-semana a temperatura desceu a pique?

Vou dormir, quentinha; e amanhã prometo acordar com um sorriso daquele tamanho.
Lorelai
Música: "On My Own", Katie Holmes (original Les Misérables)

Um dia, houve uma pessoa - que hoje já não me diz nada - que afirmou convictamente que eu deveria seguir a carreira de actriz. Ri-me e descartei a ideia como algo de totalmente impossível. Mas, nos últimos tempos, tenho pensado bastante em como deveria ter seguido esse conselho. É que, aparentemente, tenho mesmo jeito para representar. Nem que seja no dia-a-dia da minha própria vida. «Oscar, Oscar!», aplaudiriam a minha irmã e o D. quando éramos crianças. Se eles soubessem...


[ and i'm gonna miss you like a child misses their blanket but i've got to get a move on with my life. ]
Lorelai
Música: "Build That Wall", Aimee Mann

Talvez não seja a melhor opção; mas criar um mundo próprio na nossa mente e viver constantemente nele sempre nos poderá poupar alguns dissabores.

É como se fosse uma bolha que nos protege do exterior; não se trata necessariamente de ignorar o que se passa em redor, mas sim de encarar isso sob outra perspectiva. E sabe bastante bem.

Eu costumo ir vivendo em bolhas, sempre o fiz, desde que me lembro de ser gente. Iam sendo bolhas diferentes e tomaram todas as formas e feitios que se possam imaginar. Eram ilusões de criança, eram paixonetas de adolescente, eram objectivos quase impossíveis de alcançar. As minhas bolhas que me distraíam do resto e me iam mantendo a salvo.

Até que rebentavam. E aí comecei a aperceber-me que qualquer uma dessas bolhas era falível: por maior Síndrome de Peter Pan, somos obrigados a crescer; paixões têm prazo de validade, tal como os objectivos. E por muito que passe de bolha em bolha, naquele período em que estou "entre bolhas" torna-se algo complicado manter um rumo.

Daí que tenha começado a pensar que a melhor alternativa é mesmo construir paredes. Fortes, não espécie cabana de palha dos Três Porquinhos. Paredes, ao menos, iriam resistir a muito mais, por muito mais tempo. Protegem mais do que meras bolhas de sabão. E, caso se justifique com argumentos logicamente válidos, existe sempre a possibilidade de se construir uma porta de passagem, ou, pelo menos, uma pequena janela.



[ i don't wanna fall another moment into your gravity. ]
Lorelai
Música: "Gaivota", Amália Hoje


Num momento muito pouco gracioso da minha parte, vinha eu furiosa no metro, após inútil entrevista de emprego, quando deparo com um grupo de jovens, pouco mais novos do que eu, de caras pintadas e demasiado chegados numa das pontas da carruagem.

"PRÓXIMA ESTAÇÃO: RESTAURADORES!"

As praxes académicas. E o meu primeiro pensamento foi "que bela vida". E desejei poder voltar uns meses - quem sabe se não mesmo um ano - atrás. Há algo de muito mais descontraído na vida académica do que propriamente na perspectiva do mundo de trabalho. E a grande diferença que encontro não é mais senão uma vivência que se estabelece entre nós e os outros naquela altura, que talvez dificilmente voltemos a atingir noutra fase da nossa vida.

Talvez não seja simples. Não penso que, só por estarmos na escola ou na Faculdade, a nossa vida seja irremediavelmente mais simples e melhor. Só que, no meu caso, foi durante essa fase que melhor consegui entender a beleza das coisas simples. E sinto falta disso.

Ora, tendo tido estes pensamentos ao fim da manhã, chega a noite e leio o mais recente post da M.... e sorri. Não é a vida que, só por si, autorecreativamente, se torna complicada. Nós somos, em grande parte, sem qualquer questão, os responsáveis por a nossa vida ser tão complicada. Parece que, se não é, arranjamos uma forma de esta passar a sê-lo. Chega a ser exasperante. Mas continuamos a fazê-lo.

Eu cheguei ao meu limite de complicação. Expirou o saldo. A partir de agora, quero a minha vida a ser tão feliz quanto eu consigo sê-lo pelas coisas simples: são aquelas que mais valem a pena.

[ i've got myself together, now i'm ready to sing: i've been searchin' my soul tonight - i know there so much more to life. ]
Lorelai
Música: "Estate", Negramaro

Parece que agora é de vez: o Verão está definitivamente a gastar os últimos cartuchos. Para o ano há mais (talvez, que vida de mundo do trabalho e de estudante dá em ser meio imprevisível). Troca-se de estação e, porque não, de vida. Às vezes também é preciso.

Setembro é o mês de mudança, de inícios; pelo menos é isso que a M. me tem dito. Pois bem, que assim seja, até porque este Verão não foi daqueles mais espectaculares de sempre. Porém, cumpriu no que devia. Que mais se pode pedir?


. per quell'estate che vorrei potesse non finire mai.



[ come la realtà che incontra la mia fantasia. ]
Lorelai
Música: "Cool", Gwen Stefani

«Amor platônico, na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de gêneros diferentes - como num caso de amizade pura, entre duas pessoas.

Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, da qual surgiu a atual idéia grosseira, o filósofo grego da Antigüidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O Amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse (mesmo o sexual), mas na virtude.»

in Wikipedia

No sentido puro e original do termo, falar de paixões platónicas é um completo absurdo. Porém, é igualmente ilógica a utilização mais comum que as pessoas dão à filosofia do "amor platónico": um amor inalcançável, impossível, usualmente carregado de uma tremenda atracção física, sendo a generalização mais comum apenas correcta no que toca à idealização do sentimento.

Porquê essa incorrecção? Não faço ideia e pouco importa para o caso. Aquilo de que quero falar veio de uma conversa com a M. e a L. ontem à noite. A L. estava a falar de uma "paixão platónica" recente, ao que eu e a M. reagimos com uma gargalhada.

"Que tem?", perguntou a L.

"Paixão platónica é um bocado difícil, oh L.", respondeu a M. "Quanto muito, seria amor platónico".

Só que, surpresa, o que a L. queria dizer não se referia, de todo, a um sentimento de amizade pura, sem qualquer tensão sexual. Antes pelo contrário.

O que, em certa medida, lança a questão: existe ou não amor platónico? Seremos capazes de nos relacionar com o sexo oposto numa base de amizade pura, sem qualquer outro interesse - sexual ou não? Existe este amor idealizado? Teria Platão razão quando afirmava que o Amor se deveria basear na virtude e não nesses precisos interesses de naturezas diversas?

Do meu ponto de vista, Amizade e Amor são dimensões distintas, mas que, na minha opinião, não podem existir uma sem a outra. São necessariamente codependentes. Para mim, Amor sem Amizade não é amor, mas sim mera paixão; e a Amizade conflui inevitavelmente para um certo nível de Amor - somente não do mesmo género de Amor a que me refiro anteriormente.

Paixão existe sem Amor e Amor pode existir sem Paixão: mas não o género de amor que usualmente definimos por essa palavra na Língua Portuguesa (sem acordo ortográfico, já agora). Quando uma pessoa é realmente importante na nossa vida, claro que a iremos amar; mas não quer dizer que a amemos daquela determinada maneira. Pode, sim, ser o tal amor platónico. Puro, ideal, incondicional. Sem outros interesses anexados.

No entanto, o Amor, aquele Amor, nunca poderá conviver com o platónico. Como poderia? Talvez também possa ter o seu Q de pureza e até ser incondicional; mas ideal? Duvido. Não porque não acredite no Amor, não porque pense que as relações amorosas têm todas um prazo de validade - porque, apesar de tudo, não acredito. Mas, muito simplesmente, seria desafiar as Leis da Física. É pedir demasiado que tanto ocupe um mesmo espaço.

Amor - aquele Amor - implica uma partilha demasiado profunda, demasiado pessoal. Claro que há interesses, claro que há divergências, claro que se procura alcançar um ideal - e talvez até seja possível alcançá-lo, mas implica trabalho. Empenho. Esforço. Não se estala e ele aparece perfeito. Não é dotado, por natureza, do ideal.

Talvez não seja apenas inerente às relações amorosas, mas a todas as relações humanas; mas, quando estas se aproximam do Amor, existe necessariamente um esforço em busca do ideal. Mesmo na amizade. Se amamos, esforçamo-nos pelo ideal. Haja ou não interesses de outra natureza implicados.


[ You could claim that anything's real if the only basis for believing in it is that nobody's ever proved that it doesn't exist. ]

Lorelai
Música: "I Write Sins Not Tragedies", Panic! At The Disco


Há pessoas que pensam que se podem safar com o que quer que seja. Eu estou a começar a sentir-me algo empenhada em mostrar-lhes que não é bem assim.


[ a sense of poise and rationality. ]
Lorelai
Música: "Searchin' My Soul", Vonda Shepard


«The funny thing I find about love is that it's the one game you lose without even playing it».
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Lorelai

Música: "My Love Is Your Love", Whitney Houston

Ontem fui à loja da Disney, no Colombo. Passei à porta e não resisti a entrar, porque (lamento se parecer ridícula) há qualquer coisa de mágico naquele ambiente. E eu estava a precisar de alguma magia.

E parece inacreditável, mas mal se entra é impossível não ficar imediatamente algo mais leve (pelo menos, falo por mim). O chão azul com pedacinhos brancos reluzentes, as letras na faixa electrónica da coluna central qual Times Square, as memórias de cada um dos desenhos animados que via repetidamente quando era criança, os peluches tão suaves ao toque, o meu pequeno mundo de fantasia. Sabe bem.

Mas melhor ainda soube ver um grupo de meia dúzia de catraios sentados no meio da loja, com as folhas e lápis de cor que lhes haviam dado, totalmente absorvidos nas suas criações de fantasia. Aposto que mal deram pela presença do empregado de loja que tinha ido buscar uma dúzia de balões para eles, com o ar mais feliz e mais infantil do mundo, mas que muito rapidamente compôs a sua postura de adulto profissional quando uma mãe lhe colocou uma questão sobre preços.
A conclusão a tirar disto, penso eu, é que, no fundo, no fundo, não passamos todos de crianças que sabem brincar aos grandes.


[ nos desenhos animados é raro chover e nunca, quase nunca acaba mal. ]
Lorelai
Música: "Gravity", Sara Bareilles


No meu placard de cortiça tenho espetada uma rosa seca. Na prateleira, junto ao rádio, um aviãozinho de papel. Dentro da carteira, anda sempre comigo a chave de um cacifo que há muito deixou de me pertencer (e cujo cadeado penso até já nem existir). Algures dentro de um dossier hei-de encontrar um desenho de umas quaisquer "ovelhas invertidas". Uma das minhas agendas em particular é um verdadeiro tesouro de frases perdidas no tempo. Até o meu carro me começa a parecer um monumento a memórias passadas.

São aqueles pedaços de pessoas que ficam connosco, cristalizados em objectos, em odores, em lugares, independentemente de se aqueles a quem nos fazem recordar continuam ou não na nossa vida. São autênticos "souvenirs" ou "recuerdos", mas não de locais e sim de seres humanos. Vão, por vezes, bem mais longe, recordando-nos cada detalhe de um momento ou até de um sentimento.

O que se faz com cada um destes lembretes é que verdadeiramente conta. Encontrarmos apenas um deles pode levar-nos da maior euforia à mais decadente melancolia ou vice-versa.

Tem-me acontecido isso, recorrentemente, com vários pedaços de alguém. Não que importe, mas era só para dizer.



[ every memory of looking out the back door, i have the photo album spread out on my bedroom floor. ]
Lorelai
Música: "You're Still You", Josh Groban


Por aquelas coisas que sempre conseguem fazer-nos sonhar.

( Como, por exemplo, o Josh Groban ter aquela voz magnífica e mesmo assim conseguir interpretar um dos totós mais adoráveis da História das séries televisivas. )






[ «Do you understand what I'm trying to tell you, Malcolm?»

«I think. You still believe in love.» ]
Lorelai
Música: "Fuck You", Lily Allen

Certas coisas tocam-nos bem fundo nos nervos. Pessoas há a quem é a mal-educação, o cinismo, a ingratidão. Nos últimos tempos, a mim, tem-me incomodado particularmente a falta de coragem e de carácter de quem tinha em grande conta (não de toda a gente que tenho em grande conta, mal fosse. Mas de gente, vá).

Nem todos os momentos são fáceis. Quantas vezes nos surgem empecilhos que nos dão cabo da vida? Se formos a ver, a grande maioria desses obstáculos deve-se à existência de outras pessoas na nossa vida. Porque não estamos sós. E ainda que não considere que todos sejamos responsáveis pelos sentimentos de cada um, há um mínimo de decência que eu considero imprescindível naqueles que classifico genericamente de "boas pessoas" (infantil, eu sei).

Nem todos pensam ou sentem da mesma maneira. Por vezes, os sonhos e desejos de outras pessoas colidem connosco. Pensam o que não pensamos. Querem o que não queremos. Sentem o que não sentimos.

Para mim - opinião muito pessoal - a maneira como lidamos (ou não) com isso pode ser aquilo que nos distingue. Ou que nos torna igual a todos os outros.


[ I'm sorry if you think that I'm being kinda mental but you left me in such a state... Now I'm gonna do to you what you did to me: I'm gonna reciprocate.

I never wanted it to end up this way... you've only got yourself to blame. ]
Lorelai
Música: "Goodbye Tomorrow", Silence 4


Não: era isso que eu devia aprender a dizer.
Não. Uma palavra só, uma palavra simples, uma palavra sucinta, uma palavra directa. Uma palavra completa.
Não. Com mil e um motivos, com toda a razão.
Não. Não a mim, mas não aos outros.
Não. Nunca o digo a outrem, contudo digo-o constantemente a mim própria. Nego-me quanto me apetece.
Não. Não me apetece escarafunchar a ferida, deitar-lhe sal e induzir a dor.
Não. Começo a dizer não. Não a mim, mas aos outros.
Não. Há uma primeira vez para tudo…
Há sempre alguém a quem dizemos não.
Não.


“well, too much silence can be misleading…”



[ 2 de Novembro de 2005. A prova escrita de que eu era bem mais inteligente aos 17 anos do que sou hoje em dia. ]
Lorelai
Música: "Break Me Shake Me", Savage Garden


Só dá para aguentar durante um certo tempo a ilusão de que somos felizes da forma como estamos quando pouco ou nada bate certo; que não é quem nos lixou que está a viver a vida que nós queríamos para nós próprios; que não estamos constantemente a adiar os nossos sonhos sabe-se lá bem porquê; que não perdemos aquilo que mais desejávamos por medos do Passado excessivamente enraizados no nosso ser.

Ocupar a mente e conduzir o corpo à exaustão. Inventar problemas onde eles não existem, fazer planos que jamais iremos realizar. E sonhar acordada a maior parte do dia, sem prestar qualquer atenção ao que se passa em redor.

São opções, alternativas à ilusão.

Ou então, lidar de frente com a realidade. Tomar as rédeas e guiar o nosso destino para onde queremos realmente ir.

Eu escolho a segunda hipótese.



[ and some things are the way they are and words just can't explain. ]
Lorelai
Música: "Every Breath You Take", The Police

Londres. Um dia, Londres. Indubitavelmente. Um dia, hei-de viver em Londres ou pelo menos algures no Reino Unido.

Eles têm uma das cidades mais fabulosas do Mundo. Têm os campos mais fantásticos que se pode imaginar. Têm História, mas não se perderam no tempo. Têm classe e good manners, se sempre mantidas ou não, pouco importa - tal como não importa se a etiqueta britânica é demasiado austera. Eles conseguem manter um fio de História e de sentido de clássico ainda que procurem modernidade.

Eles têm a Família Real, que, gostando-se ou não, sempre dá outro interesse às cusquices de uma Nação!

Eles têm a J. K. Rowling e são o país com algumas das melhores personagens fictícias de todos os tempos - e não, não apenas do Harry Potter; eles têm Shakespeare, for crying out loud! Têm o segundo sotaque mais sexy e viciante do planeta (desculpem, mas o primeiro lugar mantém-se para os Aussies). Eles têm o James Blunt, a Lily Allen e o James Morrison, tiveram as Spice Girls e os S Club 7 e, obviamente, tiveram os Beatles, os Police e o Sting, os Genesis e Phil Collins e o incontornável Rod Stewart... E mesmo ali ao lado têm os U2 na Irlanda. Eles têm o Simon Cowell, que tanto gozo dá odiar, e agora até têm o "estudo de caso" do fenómeno Susan Boyle.

Eles têm poise, têm um nível atraente de arrogância (e que a mim me faz tanta falta) e têm o relógio que dá as horas ao Mundo (ou assim crêem, embrenhados na sua auto-confiança). Eles têm o Big Ben, o London Eye, Covent Garden e Picadilly Circus, o Thames e o Harrods, Royal Albert Hall e Stonehenge. Têm mil marcos mais que poderia ficar a debitar dias a fio.

Eles têm o Times, o ténis e o chá das 5. Ah... e eles têm o Rupert Grint. And for me, enough is said.

E mesmo quando não prestam para nada... basta ouvir aquele sotaque britânico e tudo se esquece. Ou quase tudo, vá.



[ you might laugh, you might frown, walking round London town... ]
Lorelai
Música: "Thriller", Michael Jackson

Desde o dia 25 de Julho do presente ano tenho procurado palavras para transmitir os meus pensamentos e sentimentos em relação à perda de um ícone. Não as encontrei. Hoje, ao ver o belo Memorial que lhe foi concedido, com tanto coração, percebo que basta o que para mim guardei.

Quero apenas deixar aqui gravado o meu espanto e absoluta incredulidade por quem nunca entendeu o génio do Rei da Pop e por quem se recusa a reconher o seu valor, mérito e inovação sem precedentes no mundo da música. O que vale é que o legado de Michael Jackson fala por si só.



"There's nothing that can't be done if we raise our voice as one". (MJ)

..

A harmonia completa da voz, a incomparável dança. Independentemente de tudo o resto que procurem apontar-lhe, Michael Jackson é uma lenda, um ícone e irrefutavelmente um dos maiores artistas de todos os tempos. E, quem sabe, o maior..
.

"Thriller" («'cause this is thriller, thriller night!»), "Bad" («who's bad?»), "You Are Not Alone" («for I am here with you...»), "She's Out Of My Life" («and it cuts like a knife»), "Black Or White" («it doesn't matter if you're black or white»), "Remember The Time" («do you remember when we fell in love? we were young and innocent then»), "Earth Song" («what about all the things that you said was yours and mine?»), "Rock With You" («all night...»), "We Are The World" («we are the children...»), "I'll Be There" («just call my name»), "Beat It" («no one wants to be defeated»), "The Man In The Mirror" («and no message could have been any clearer: if you wanna make the world a better place, take a look at yourself and then make a change»), "They Don't Care About Us" («all I wanna say is that they don't really care about us!»), "Heal The World" («make it a better place, for you and for me and the entire human race»), "Billie Jean" («but the kid is not my son!»), "Will You Be There" («through my joy and my sorrow, in the promise of another tomorrow»), "Human Nature" («if they say 'why, why?', tell 'em that is human nature...») ....


....
Lorelai
Música: "Antes e Depois", Klepht

A vida deveria ser um romance de Jane Austen. Porque entre Frapuccinos de caramelo do Starbucks, bebés no parque de Belém e pessoas que se perdem à procura da A5, torna-se muito difícil manter a sanidade mental perante um Edward Ferrars quando não somos exactamente uma Elinor Dashwood.

E convenhamos que não é assim tão usual as Elizabeth Bennet deste mundo encontrarem realmente o seu Mr. Darcy. Pelo menos, não no meu mundo. Ou, pelo menos, não de forma simples e sem pensar antes umas mil vezes que o nosso Mr. Darcy, afinal, não passa de um Edward Ferrars comprometido com Miss Steele...




[ non senti che tremo mentre canto? nascondo questa stupida alegria quando mi guardi. ]
Lorelai
Música: "Right To Be Wrong", Joss Stone

Tenho uma tendência enorme para entrar em pânico se tenho decisões para tomar. O meu primeiro impulso é pedir a opinião de toda a gente - o que, não raras vezes, leva a um debate considerável entre as pessoas que questionei, debate esse subordinado ao tema "a minha vida". Coisa que, simplesmente, abomino. Mas o que abomino ainda mais é alguém tentar tomar as decisões da minha vida por mim.

Pedi opiniões, não pedi para decidirem por mim o que só a mim me compete decidir. E não, não admito falsos paternalismos nem o meu bem como justificação para qualquer atitude deste género ou afins.

A vida é minha. Posso cometer erros, mas esse é um direito que me assiste. Certamente encontrá-lo-ão algures na Constituição.



[ Don't tell me you agree with me when I saw you kicking dirt in my eye. ]
Lorelai
Música: "Drive", The Cars


Está na altura de começar a mentalizar-me: acabei a licenciatura. Até escrever isto soa estranho e - não nego - chega a custar-me um bocadinho. Só um bocadinho...

Que raio é que eu agora vou fazer da minha vida é que eu não sei. Mas toda a gente parece saber onde vai com a sua vida. Só que eu, neste momento... não sei. Não sei mesmo, de todo, em nenhuma vertente da minha insignificante existência. E isso torna-se meio assustador (mas não tanto como me andarem a falar de casamento e de ser mãe).

The pressure's on. Sei que as pessoas mais próximas de mim estão claramente à espera que eu tome uma decisão sobre o que vou fazer. E, do fundo do coração... acreditem que não há ninguém que mais gostasse de vos poder dar uma resposta.


...



... mas não posso.
Lorelai
Música: "Thinking Of You", Katy Perry

Véspera do teste de Direito e, por sinal, do Baile de Finalistas. Onze da noite. Conversa ao telemóvel com a L. - conversa algo estranha, refira-se. Do nada, totalmente vindo de parte alguma, ela vira-se e diz: "Cada vez tenho mais a certeza de que vais ser a primeira de nós a casar."

Silêncio deste lado da linha. De seguida, um qualquer som de agastamento e total incredulidade.

Do outro lado, a L. não desiste: "Juro-te. Hás-de encontrar alguém e vais mesmo ser a primeira a casar. Tenho a certeza".

Digam-me se não é isto que qualquer pessoa sã discute na véspera da última frequência na Universidade.

E o mais assustador de tudo é que, nem 24 horas depois, umas três pessoas, no dito baile de finalistas, em momentos totalmente diferentes, sem saberem do que os outros tinham dito, começam a falar do quão maternal sou ou estou e que mãe fantástica eu hei-de ser. E isto, lamento informar, sem qualquer ponta de ironia. Tal como a voz da L. na noite anterior, sem qualquer ironia e com o maior tom de certeza.

Expliquem-me. Digam-me que raio anda a passar por estas mentes. Porque eu não compreendo. E cada vez ando mais longe de perspectivas de casamento, portanto, peço apenas... expliquem-me.
Lorelai
Música: "When We Are Together", Texas

Chamem-me ingénua, mas talvez eu ainda acredite em contos de fada. Pode ser um grande defeito e não nego que expectativas demasiado altas já me deixaram mal umas quantas vezes. Mas, sinceramente... não consigo deixar de acreditar.

Não será necessariamente em contos de fada; só tenho certas perspectivas de vida as quais não me entra na cabeça, de todo, que sejam impossíveis. Tal como a questão de duas pessoas "ficarem casadas e apaixonadas durante 30 anos". Ou que, "depois de se ter", o interesse se vai para parte incerta e não nos resta grande opção mais senão ser infeliz ou partir para outra.

Talvez eu seja uma idealista. Aliás, talvez, não: de certeza. Sou-o, das pontas do meu cabelo à unha do dedinho do pé. Mas, estupidamente ou não, acredito no amor e em todas essas boas sensações, e acredito que elas não sejam como o leite do dia, com prazo de validade. E não é que tenha os melhores exemplos à minha volta - antes pelo contrário - mas, bloody hell, that's just the way I'm wired.

Daqui a uns 30 anos, falamos... mas, por enquanto, é assim que me mantenho: ingénua, a pensar na casinha nos subúrbios com cerca branca, o golden retriever (ou o pastor alemão, aliás) aos meus pés, chávena de café quente na mão e o meu marido ao longo de 30 anos sentado ao meu lado. E sim, se estão a questionar-se, ele veio buscar-me no seu cavalo branco e trouxe no bolso do casaco o meu sapatinho de cristal.
Lorelai
Música: "Smile", Lily Allen

Confiança. Nem sempre é assim tão fácil de conquistar, mas muito rapidamente se perde. Às vezes, pelo menos. O problema maior nem é tanto perder a confiança numa pessoa – que já é mau o suficiente – mas é antes perder a confiança no mundo em geral. Na vida, por assim dizer. A ideia não é muito fácil de transmitir, pelo que apelo um bocadinho à imaginação.

A vida não são só erros e desilusões. Só que quando alguém apanha desilusão atrás de desilusão e comete erros em catapulta (mesmo quando acreditava piamente não o estar a fazer), é complicado manter essa noção inicial. E aí corre o risco de embrenhar-se numa lógica mecânica de (tentativa de) auto-preservação, que um dia não será mais do que uma rotina inútil e asfixiante. Porque o ser humano, afinal, é uma criatura de hábitos – e quando nos embrenhamos demasiado neles, escapar-lhes torna-se virtualmente impossível.

Essa tendência algo passivo-maníaca chega a tomar tanto conta da vida de alguém que, mesmo quando algo de bom acontece, os efémeros picos de confiança se esvaem tão depressa quanto surgiram, não restando nada mais senão os decrépitos processos mecânicos de busca de auto-preservação. Clínico. Simples. Rotineiro. Seguro. Painless.

Trust. Either you got it, or you don’t.